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Mar 20, 2009 10:45

Eu olho pra você e só vejo beleza. Aquela beleza simples, sem grandes enfeites ou poses combinadas, nada daquelas cores da moda ou aquele jeitinho de ser. Apenas você, e isso me encanta de tal forma que eu não consigo parar de olhar.


Talvez seja meu olhar ordinário, minha falta de sensibilidade. No alto dos meus 21 anos eu não tenho seus gostos antiquados, seus maneirismos sem data no tempo, seu olhar cansado de quem vê esse jogo se repetir todos os dias sem parar. Te olho com a admiração boba de quem encontra um seixo bonito na rua, uma borboleta morrendo em uma esquina, uma árvore perdendo as folhas em uma brisa leve. Aquele olhar que se enche com tantos detalhes que não consegue processar todos, apenas fita aquelas belezas embasbacado. Nem me permito ter reação, por mais que meu corpo reclame do desconforto, qualquer movimento que eu faça pode te tirar de foco, então me aquieto.

Suas pálpebras rosadas, seus cílios negros e curtinhos, cílios de menininho. Suas sobrancelhas finas, naturalmente desenhadas sobre esse tom pastel que as sombras da tua pele tem. Sua franja longa que forma ondinhas no travesseiro e cobre parte do seu rosto quase que de propósito, seu nariz fino, as narinas no mesmo tom das pálpebras, narinas que até se mexem enquanto você sonha agitado. Sua boca entreaberta no travesseiro, não da forma vulgar que as pessoas fazem. Você dorme como um anjo e isso não é um elogio gasto pelo uso. Seu rosto de anjo, tranqüilo como se não houvesse nada lá fora, como se a vida se resumisse a esse quarto, como se nada pudesse perturbar seu sono profundo. Sua boca entreaberta como quem pede um beijo para despertar.

Você ergue a mão e passa bruscamente na ponta do nariz enquanto dorme, para depois agarrar o travesseiro com a outra mão e deixa as sobrancelhas franzidas. Aqueles sonhos ruins que te atormentam as vezes, eu sei de tanto te ver dormindo. E eu bobo dou risada do seu rosto bravo se desfazendo enquanto você relaxa. Desculpa.

Te olho como se visse uma imagem santa, são tantas coisas que deixam essa imagem perfeita que eu quero lembrar de cada detalhe, por mais que eu saiba que eu vou te ver dormindo até talvez pensar em enjoar disso. A única que eu posso imaginar é não merecer mais ver essa imagem, e isso me atormenta um pouco. Juro, só um pouquinho, eu sei que você vai dizer a grande bobagem que isso é, mas agora que eu tenho tudo não posso deixar de ter medo de perder. Te consegui tão bruscamente que ainda não me acostumei com o gostinho da vitória.

Vejo seus braços acomodados no travesseiro e me sinto um babaca por sentir inveja dele, bem acomodado debaixo da sua cabeça, sendo abraçado e de vez em quando beliscado conforme você sonha. Seus braços bem definidos, sem aquele exagero que eu costumava achar bonito, mas que não te torna menos masculino. Suas costas nuas, as covinhas enfeitando essa carne com pequenas sombras, suas coxas cobertas pela metade por esse lençol que você tira durante o sono, suas pernas dobradas em um ângulo que me faz rir, mas que não conseguem te deixar menos adorável. Você me chamaria de idiota por ver beleza nisso, mas não tem nada em você em que eu não veja beleza, é só parar e reparar.

Parando e reparando, consigo ver até essa sua tatuagem tonta na pélvis se eu erguer um pouco a cabeça. Como eu não quero pensar na razão dessa tatuagem eu ergo os olhos e encaro seu rosto. E a raivinha do travesseiro e da tatuagem desaparecem como mágica. Você daria risada disso, mas você é a droga mais maravilhosa que eu poderia sonhar em provar. Você diria que isso é impossível, me chamaria de bobo mas eu manteria minha resposta sem hesitar. E eu sei que isso pareceria uma atitude boba, até porque reconhecer a incerteza é uma forma de ser sábio, mas eu não tenho sua vivência, eu posso errar com a desculpa da minha juventude sem ressentimentos, e não hesitaria em falar essas coisas bobas por nada. Absolutamente nada.
Só paro de te encarar por alguns instantes enquanto mudo meu corpo de lugar, antes que as câimbras comecem a consumir meus músculos tensos. Imaginei que ficar numa daquelas posições cinematográficas te deixaria encantado quando acordasse, mas nos filmes os mocinhos acordam com o menor movimento da dama, e você nem mexe os cílios enquanto me acomodo desajeitado na cama. Engraçado, quando você levanta sem fazer barulho eu acordo assustado, e eu me mexendo como um pato na cama não faço você sequer respirar diferente.

São esses anos da tua experiência que te deixam melhoraram de uma forma que eu só posso sonhar. Enquanto você conquistou o sono dos justos eu ainda me assusto por qualquer coisa. De novo essa idade nos persegue.

Eu penso em tudo isso sim, não invento depois de ver uma novela ou revista como você pensa as vezes quando me encara curioso com o que falo. Eu penso nas nossas diferenças justamente por perceber como elas são enormes, e justamente por perceber que você as vezes finge não vê-las para não me machucar. Mas eu continuo percebendo, agindo como bobo por natureza, morrendo de medo cada vez que falo uma besteira de você me olhar com um desprezo profundo e não me querer mais. Eu tenho um medo absurdo disso, já disse o porque.

Minha bobeira até me permite declamar a música. Eu sei que você acha que eu canto muito mal apesar de dizer que ama minha voz, mas eu me estico com cuidado e encosto meu queixo no pé do seu ouvido e sussurro cheio de expectativa, You Just to good to be true, can’t take my eyes of you...

Você estremece mas eu consigo perceber depois de alguns segundos que você vai fingir que dorme. Seus cabelos caem sobre o seu rosto, mas eu consigo perceber a sombra do seu sorriso maldoso, esse sorriso que me daria coragem para enfrentar uma legião se assim eu precisasse. Esse sorriso sacana que as vezes me machuca, mas eu tonto continuo gostando. Você me faz agir como um tonto e gosta, e a coisa mais estranha da nossa história é que eu gosto desse seu jogo bobo. Esse jogo que me encanta.

E o pensamento vem natural enquanto eu tento lembrar do resto da música. Aquela necessidade de fazer isso todos os dias, de ver seus olhos abrirem lentamente enquanto você ergue a mão para cobrir a boca e bocejar até o corpo esticado estremecer de prazer. Necessidade de sentir esse aroma fora do comum, mesmo quando você acorda. Até porque você é um homem fora do comum. Meu homem fora do comum.

E eu penso em dizer sim.

golden soldiers: thomas, história original

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