Fiiiiiiiiiiiiiiinally, the last chapter, yeah!
Hope my dear
melissa_42 will enjoy it :)
Alguns minutos de horas da contagem humana depois, Luciano acordou com o apito chato e insistente da Iguaçú.
-Chegamos - ele disse, pulando da cama - Você vem junto?
-Claro que vou - Martin respondeu, sentando e esfregando os olhos - Desliga essa droga.
-Não há tempo pra isso - Luciano disse - Põe logo a sua roupa espacial e vamos.
Por alguma razão misteriosa, Martin não respondeu a isso, levantando-se da cama com toda a dignidade. Ele pegou a sua camisa do chão ao lado da cama (apesar de ela ter ficado linda naquele canto. Luciano devia ter comentado antes de eles terem pegado no sono), vestiu-a e passou reto pelo brasileiro, indo direto ao mastro principal.
Luciano, que tinha se distraído com a paisagem de novo, abanou a cabeça para desanuviar os pensamentos e caçou as botas espaciais de dentro do armário. Porque, apesar de ninguém ter nada com isso, ele estava mesmo acostumado a guardar cada coisa no buraco mais próximo, então suas botas estavam ali no quarto mesmo, o equipamento propulsor portátil estava no chão da cozinha (ou, no caso, no chão do almoxarifado das pílulas de astronautas) e o capacete de ar pressurizado estava…
Em algum lugar. Provavelmente lá embaixo.
Enfim, Luciano calçou as botas, endireitou-se, agachou-se novamente e descalçou-as, descendo pelo mastro com elas presas debaixo do braço.
-Uma dica pra você, hermano - Luciano disse, pousando as coisas no chão - Espera a gente estar saindo pra colocar essas botas. Aqui dentro, com toda essa gravidade, elas ficam pesadas pra cacete.
-Guarde suas dicas pra você. Já está pronto?
-Não, mas vou ficar antes que você - Luciano respondeu, encontrando seu capacete no chão entre o console principal e o banco do co-piloto.
Martin não respondeu e, realmente, ele não estava sendo muito eficiente em se aprontar. Apesar de carregar o capacete nas mãos, ele não o colocava sobre a cabeça, parecendo profundamente incomodado com alguma coisa misteriosa.
-O que foi dessa vez? - Luciano perguntou, já metade pronto.
-Nada. Hmmm. Você… o único espelho nessa nave é aquele lá no banheiro?
-É, sim. Por quê?
Martin torceu a boca, encaminhando-se até o mastro principal.
-Certo. Assim que voltarmos pra Terra, a primeira coisa que vamos fazer vai ser achar mais um espelho pra essa banheira. Agora queira por favor colocar-nos em gravidade zero.
Luciano ergueu as sobrancelhas, sem fazer qualquer menção de obedecer:
-Não acredito que você quer ir se olhar no espelho agora. Pra quê?
-Não é da sua conta. Só liga essa coisa e eu desço em cinco minutos.
-Nem a pau, nós já perdemos tempo demais. Pode ficar tranquilo que você vai ser a coisa mais bonita lá fora.
-Eu sei, mas esse não é o ponto. Agora liga essa droga de uma vez.
-Se você sabe, qual é o problema? Pra quê se olhar no espelho agora?
-Por nada, porque eu estou acostumado, só isso - Martin respondeu, os olhos faiscando - Por que isso te incomoda tanto? A gente ainda tem tempo, e eu não vou levar nem cinco minutos.
-Você parece uma moça - Luciano desistiu, acionando a gravidade zero com um soco no painel - O planeta à beira da destruição e você se preocupa com o seu cabelo.
Os dois começaram a flutuar nessa hora, e Luciano pensou que talvez tivesse sido melhor ter calçado as botas antes de ter acionado aquela merda.
Martin se segurou no mastro, a testa franzida:
-A gente ainda tem tempo - ele repetiu - E no que isso te incomoda?
-Não me incomoda em nada. Eu só acho cretino.
-Por quê? Se o cabelo é meu e a cara também é minha e a vida também é minha, o que é que você tem a ver com isso?
-Não tenho nada a ver, e também não sei por que você ficou tão irritado agora se eu só estou falando-
-Eu não estou irritado, só não sei porque você faz questão de cuidar da minha vida se nós não temos nada a ver um com o outro.
-Então vai, cara, não está mais aqui quem falou.
Martin finalmente subiu e Luciano, após chutar o teto pra pegar impulso, desligou a gravidade zero e terminou de se aprontar.
Todo aquele clima de discórdia estava acabando com ele, e isso era muito errado. Porque, até agora, quem tinha começado todas as brigas fora Martin, e era sempre ele quem ficava todo ressentido no final.
E eles não tinham nada a ver um com o outro.
Luciano suspirou, vestindo o capacete e esperando. Quando finalmente Martin desceu e os dois foram para a plataforma de saída (ficava no canto oposto ao do Console Principal, pra lá do mastro principal, onde se apertava um botão para que uma porta selasse o isolamento do resto da Iguaçú, permitindo que os tripulantes saíssem sem grandes incidentes), ele começou a dizer sem nenhuma introdução:
-Olha, eu não quero ficar brigando com você o tempo todo. Então desculpa qualquer coisa, tá? Porque eu estou acostumado a ficar muito tempo sozinho, então eu desaprendi a ficar perto de gente chata e implicante, mas normalmente eu sou bem mais legal do que isso.
Martin, que tinha erguido uma sobrancelha durante o discurso, abriu um sorriso de lado:
-Ah, eu sei disso. E sei qual é o problema também.
-Que problema?
-O motivo de você ficar me enchendo o saco - ele continuou, colocando o capacete e sem parar de sorrir.
-Ah, você sabe? - Luciano cruzou os braços - E você se importaria em me dizer qual é?
-Eu direi na hora certa. Agora nós precisamos parar o cometa.
-Mas se você começa um assunto- tá, não, eu não vou cair na sua dessa vez. Cansei de ficar brigando o tempo todo. Então, a próxima vez que você começar com graça, eu vou te jogar na cama e resolver o problema de uma vez por todas.
Luciano falou sem pensar, ou, melhor, falou pensando em deixar Martin sem graça, achando que ele iria enrubescer de novo (e ele ficava muito fofo quando isso acontecia), qualquer coisa, então foi um espanto quando o sorriso do argentino ficou mais aberto:
-Viu? É exatamente por isso que você fica me provocando. Mas eu não vou cair na sua agora, porque ainda há um maldito meteoro maciço etc.
Luciano ficou tão indignado que não soube o que responder, simplesmente abanou a cabeça e apertou o botão para isolamento da nave e posterior abertura da fronteira externa da Iguaçú.
Então, enquanto os dois tripulantes eram lançados no Espaço, as últimas palavras de Martin ecoaram na mente de Luciano.
AGORA.
Uma vez no cometa, Luciano teve a grata surpresa de ver que havia um certo exagero da parte de Catalina. Quer dizer, por mais que ele realmente fosse MACIÇO DE FERRO E CHUMBO, não havia nem sinal de qualquer nuvem de Xenônio e Enxofre líquido fumegante, o que, apesar de não resolver o problema do planeta, certamente era uma boa notícia.
Mas, sim, infelizmente, nada disso mudava o fato de que aquela merda ainda estava seguindo inabalável na direção da Terra, e que eles não tinham nada que fosse duro e resistente o bastante para perfurar a coisa e acabar com o problema de uma vez. Por alguns segundos, Luciano pensou que talvez pudessem usar a cabeça dura de Martin, porém, como apesar de resistente ela também era oca, havia o risco de quebrá-la, e aí ia mais uma infração para a DCT acrescentar aos seus crimes.
-Certo - ele suspirou, falando com Martin pelo rádio de sua veste espacial - Não dá pra destruir essa coisa, nem tirar a Terra do caminho, então só sobra uma alternativa.
Martin se virou para ele, esperando.
-Nós vamos precisar desviar esse cometa - Luciano completou o raciocínio - E bem rápido, pra trajetória dele passar longe da nossa órbita.
-E como nós vamos fazer isso?
-Então - e Luciano mordeu o lábio inferior durante alguns segundos - a melhor idéia é usar o meu estoque de argônio xenoso pra causar uma explosão grande o bastante pra desviar essa droga, mas isso pode causar uma série de consequências horríveis.
-Tipo o quê?
-Bom, primeiro que, uma vez sem argônio, o meu poder de compra vai se reduzir drasticamente, o que é sempre um saco. Segundo que, uma vez desviado, há sempre o risco desse cometa acidentalmente destruir outro planeta, o que vai colocar a CCGU no nosso pé mais rápido que a velocidade da luz. E terceiro e pior, é possível que a gente acabe morrendo no processo.
-Como assim? - Martin ergueu as sobrancelhas - Por que nós morreríamos?
-Porque não existe a menor possibilidade da gente causar essa explosão de argônio e ficar longe o bastante pra não ser atingido pela onda. E, uma vez que isso aconteça, sabe-se lá onde iremos parar.
-Então eu detestei essa idéia - Martin franziu a testa, desviando o olhar para o cometa. Agora que já tinham dado algumas voltinhas por ele, os dois tinham ligado seus jatos propulsores e estavam voltando para a Iguaçú - Nós não podemos morrer aqui. Você ainda tem que ser preso.
-Eu sei, e eu ainda nem te joguei na cama - Luciano concordou tristemente - Mas, sem ser o argônio, eu não consigo pensar em mais nada que pudesse afetar a trajetória de um cometa tão grande. E você tem que lembrar que ele não é oco, o que é pior ainda.
Martin torceu a boca, sem responder. Assim que voltaram para a nave e as portas começaram a se fechar, Luciano lembrou de outro ponto importante:
-Isso porque eu nem sei como vamos causar essa explosão. A gente precisaria de um jeito pra expelir todo o argônio pra fora, mas a única forma de fazer isso é…
Sua voz foi sumindo aos poucos, conforme uma idéia ia se formando em sua mente. Martin se virou para ele:
-O que foi? Qual é a única forma de fazer isso?
-Pela saída de combustível. Então talvez a gente não morra, afinal de contas.
-Nós soltaríamos o argônio junto com o plutônio em pedra? Isso não ia explodir o tanque de combustível e a nave inteira?
-Bom, é, talvez, mas, já que o plutônio está em pedra, nós poderíamos colocar o argônio fora do tanque, assim, flutuando lá fora e então dar a partida com tudo, e aí a explosão já não seria dentro da Iguaçú.
-Tá, muito legal, mas isso ia foder completamente com a saída do combustível, e a gente nunca mais conseguiria voltar pra casa.
-Talvez, porque, com a intensidade da partida e da explosão, mais a inércia, nós podemos ficar rodando um século pelo espaço, até chegar em algum lugar onde alguém consertaria isso. O problema é que, sem argônio, não ia dar pra pagar pelo conserto, mas-
-Mas esse é um problema pra depois - Martin interrompeu, tirando o capacete agora que já estavam com as portas da Iguaçú fechadas - O problema de agora é o baque que isso vai nos causar aqui dentro, porque vai ser um impacto e tanto.
-É, lá isso vai. Mas nós podemos nos segurar bem e torcer pelo melhor. E, sei lá, acionar a gravidade zero.
-Isso não vai ser pior? Porque com a explosão e a partida doida da nave, a gente já vai cair feio aqui dentro, então-
-Mas é justamente isso - Luciano disse, subitamente tão empolgado que agarrou o ombro de Martin - Nós ficamos aqui dentro em gravidade zero e nos seguramos em qualquer lugar do teto ou do chão, mas deitados, pra não ter tanto efeito da inércia. Aí ligamos a nave na potência máxima e, depois da explosão, desligamos pra poupar combustível.
-E isso não vai deixar ainda mais provável que a gente quebre o pescoço com o baque?
-Por isso que nós vamos estar deitados. E, a não ser que você esteja disposto a descer pra empurrar a Iguaçú depois que o plutônio acabar, essa é a melhor idéia.
-Tá, que seja - Martin desistiu, esfregando o rosto com as mãos - E quem vai colocar o argônio lá fora?
-Eu vou. Você pode esperar lá dentro.
-Quão arriscado é isso? Essa merda pode explodir nas suas mãos?
-Nada, é só levar pra fora e pronto. Ele vai ficar flutuando ali e então nós vamos ter que correr.
-Tá. Agora, você… dá pra tirar o capacete?
-Mas eu vou sair agora.
-Só um minuto. Tira logo.
Luciano torceu a boca, mas fez como ele pediu.
-Pronto. Posso colocar de novo?
Martin não respondeu e, no instante seguinte, os dois estavam se beijando, por mais que aquela roupa atrapalhasse.
-Agora vai logo - Martin disse, depois que se separaram - Eu vou te esperar na sala do Console. Deitado.
Luciano sentiu o rosto esquentar, mas concordou com a cabeça, colocando o capacete e esperando o argentino sair da zona de isolamento.
Depois disso, foi tudo muito rápido. Ele levou o argônio xenoso para fora, o argônio não explodiu em suas mãos, deixou-o flutuando à saída do combustível, recarregou o tanque com todo o estoque de plutônio em pedra, voltou pra dentro da Iguaçú, fechou as portas externas, saiu da zona de isolamento, arrancou toda a roupa (espacial) e teve o prazer de encontrar Martin sem camisa.
-Eu acho que nós devíamos deitar no teto - ele disse, olhando para cima e deixando bem visível a linda linha de seu maxilar.
-Por mim tudo bem - Luciano respondeu, acionando a gravidade zero - Vai se acomodando enquanto eu programo o piloto automático para dar a partida em trinta segundos e desligar em quarenta.
Martin não discutiu e, quando Luciano se juntou a ele, percebeu que o argentino tinha trazido um cobertor do quarto.
O que significava que ele também tinha entrado numa corrida frenética depois que Luciano saira com o argônio xenoso, e esse era um pensamento muito doce para se ter.
-Pronto? - Luciano perguntou, um sorriso nervoso, enquanto se acomodava ao lado dele.
-Claro - Martin disse, envolvendo-o com cobertor - mas acho melhor a gente se beijar depois, porque o baque da explosão vai fazer um morder a boca da outro.
-Mas e se a gente morrer?
-Merda - Martin praguejou, inclinando a cabeça para beijá-lo de novo, e dava pra ver gotas de suor em sua testa.
Quando a Iguaçú deu a partida, um clarão invadiu a nave por todos os lados, e a partida foi tão intensa que Luciano se viu apertando Martin com toda força, e sentiu os braços e os dedos dele enfiados em sua pele. Os dois não se morderam, mas pararam de se beijar e apertaram os olhos, mal sentindo quando a Iguaçú desligou o motor.
Dez minutos da contagem humana e uma infinidade de anos-luz depois, quando eles abriram os olhos, a nave ainda ia a uma velocidade espantadora, mas Luciano sentiu que poderiam falar sobre isso.
-Certo - ele limpou a garganta - eu acho que sobrevivemos.
-Parece que sim - Martin respondeu, olhando em volta - E o planeta?
-Deve ter sobrevivido também. Quem diria que argônio xenoso poderia causar todo esse estrago?
-Pois é. E nós já podemos ficar de pé?
-Não - Luciano respondeu bem rápido - É imperativo que permaneçamos deitados.
-Tudo bem por mim - Martin disse, fechando os olhos de novo e segurando o rosto de Luciano entre suas mãos.
E, até a Iguaçú eventualmente cair na órbita de Vênus (o que os obrigou a ligar os motores de novo, já que morrer num planeta tão simpático não fazia parte do plano), os dois se beijaram e se abraçaram e tiraram a roupa (terrestre) e brigaram, ignorando as ligações da DCT, que respirava aliviada e se perguntava onde se metera o Corsário Espacial mais procurado por toda a galáxia, e por que raios ele ainda não estava preso.
S2 Le fin S2