Título: Aquele do Escritório
Personagens: Br/Arg, nessa ordem.
Rating/Warning: PORN OF DOOM. WITHOUT PLOT. Yeah don’t judge me. Eu não ia postar, mas a
zulenha me obrigou ;A;
Sumário: Escritório AU. Com porn. Basicamente isso.
Luciano da Silva gostava de seu trabalho, até Martin Hernandez aparecer.
Antes, era gostoso ficar ali. Ele tinha vários amigos - desde o primeiro dia tivera facilidade pra isso - e conversava com todos, fazia várias pausas para tomar café e bater papo e relaxar, e o departamento inteiro tinha um clima divertido, e era um prazer vir trabalhar.
Bom, na medida do possível. Mas pelo menos não era muito chato. E agora...
... agora ele ainda podia conversar e tomar café, se quisesse, mas não era mais tão legal porque Martin estava ali, sendo desagradável e se metendo nas conversas alheias e se achando melhor que todo mundo. E, mais importante, melhor do que ele, só porque tinha vindo de fora e muito provavelmente ia assumir alguma posição grande ou coisa parecida, Luciano não tinha prestado muita atenção. Tinham apresentado o cara como se ele fosse a bolacha mais recheada do pacote, e Martin tinha olhado para os outros como se eles fossem bolachas murchas e sem graça e para Luciano como se ele fosse uma daquelas de água e sal que nem recheio tinham, e ele tentou explicar isso para os colegas depois mas ninguém levou a sério.
Ele não podia imaginar porque.
Enfim, Martin tinha se comportado como um idiota arrogante, ia ser insuportável trabalhar com ele e Luciano estava seriamente pensando em ir embora.
Ou, pelo menos, pedir pra mudar a mesa de lugar. Agora ela estava bem do lado da sala do infeliz, o que significava que Luciano era obrigado a ouvi-lo falando em espanhol por telefone o dia inteiro. O que acabava com sua alegria de viver.
Pra piorar as coisas, ninguém mais parecia se incomodar. Pelo contrário, desde que o outro chegara estavam correndo boatos sobre seu trabalho e como finalmente essa empresa idiota tinha dado uma dentro, chamando-o lá de Buenos Aires até aqui, e todo mundo parecia completamente satisfeito. Estavam achando o cara até que agradável, o que Luciano simplesmente não conseguia entender. O jeito dele dar de ombros cada vez que recebia um elogio, e sorrir com o canto da boca como se fosse óbvio que ele tinha feito um bom trabalho, e o jeito dele não falar bom dia pra ninguém que não falasse bom dia pra ele primeiro, e o jeito como ele dava palpite no trabalho de todo mundo como se soubesse fazer tudo melhor do que todos, tudo isso, o pessoal achava engraçado. E cativante. E agradeciam os palpites idiotas dele como se ele estivesse mesmo ajudando, em vez mandá-lo enrolar suas ideias e sentar em cima.
E Luciano nem tinha a oportunidade de dizer isso ele mesmo, porque Martin ainda não tinha falado com ele nenhuma vez.
Literalmente nem uma vez. No primeiro dia, depois de se distrair pensando na questão das bolachas, Luciano tentara ser amigável. Tinha estendido a mão com toda educação e cortesia, e Martin tinha... certo, ele tinha apertado sua mão, mas antes tinha medido-o muito rapidamente com um olhar de pouco caso e não tinha dito nada, só apertado sua mão com aquele sorrisinho idiota e continuado sua conversa como se Luciano nem estivesse ali.
Muita falta de educação, isso. Luciano não gostava de lidar com gente assim. Se ele sempre tentava ser legal e amável com todo mundo, porque é que aquele cretino não podia tentar também? Mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso - tirando pedir mesmo demissão, mas isso era inviável - e ele ia ter que aguentar, mesmo que chegar todo dia de manhã para que os olhos verdes e o sorrisinho besta de Martin acabassem com seu humor logo de cara. Até a loção que ele usava estava começando a lhe dar nos nervos. E devia ser cara, ainda por cima. Mais do que o desodorante genérico que Luciano usava. Provavelmente.
Pelo menos hoje ele tinha tanto trabalho que não ia poder pensar muito no cheiro do cara. Tinha acabado de descobrir que um dos relatórios não era pra ser entregue na semana seguinte, como vinha pensando, mas dali a dois dias, e isso significava que ia ter que ficar ainda mais tempo aqui, e evidentemente sua vida não valia a pena ser vivida. Exceto por isso, agora estava ocupado demais pra se irritar com Martín.
Estava discutindo o assunto com um colega - o prazo, não Martín, isso seria suicídio profissional - e de alguma forma a conversa foi pra times de futebol e dali pra planos pro fim de semana, e ele estava falando animadamente e gesticulando com o café na mão - tinha prática e nunca derrubava, sério - quando percebeu que Martin estava olhando para ele.
Assim, fixamente. Com o queixo apoiado na mão, os olhos semicerrados, sem fazer a menor questão de disfarçar.
Eu, einh, pensou Luciano, e tentou lembrar o que estava pensando antes de perceber, mas a partir daí ficou difícil, porque aquele olhar incomodava, e ele ficava espiando de vez em quando para ver se Martin ainda estava olhando e ele sempre estava, e uma vez teve a cara de pau de esboçar um sorriso. Que nem era sorriso de verdade, só um levantar dos cantos dos lábios sem nem mostrar os dentes nem nada, como se o desconforto de Luciano fosse exatamente o que ele queria.
Por fim Luciano perdeu a paciência, virou-se para ele e encarou de volta (quando a conversa tinha morrido um pouco, pra ninguém estranhar, é claro). Martin sorriu de leve, então, e corou de leve também, o que era bizarro, e desviou os olhos, finalmente, começando a revirar seus papeis.
O resto do dia foi todo assim, pelo menos nas vezes que Luciano prestou atenção. Aquele olhar verde fixo nele, sem muita expressão além do sorriso, e por fim Luciano concluiu que ele devia ter ouvido a história do prazo e estava se divertindo com seu sofrimento. Tinha que estar. Tentou se lembrar de que estava ocupado demais pra isso, que podia se consolar com a pilha de trabalho que ia ter que fazer.
Essa idéia perdeu um pouco da graça quando todo mundo começou a ir embora. Ele ficou em sua mesa despedindo-se dos colegas e, quando por fim viu-se sozinho, tentou não pensar muito no caso. Isso podia ser legal. O escritório vazio. Podia ser interessante, e ele podia... pedir uma pizza, ou alguma coisa assim, pra se distrair e...
Luciano suspirou, deprimido. Pensando bem, teria sido muito melhor ir pra casa. Poderia achar algum jeito de se distrair lá. Por que é que essas coisas tinham que acontecer com ele? Por que é que ele não podia ficar em paz como todo-
-Você está ai, disse uma voz surpresa.
Luciano quase deu um grito. No microssegundo antes de reconhecer a voz, ele pensou em tudo, desde assaltantes até seres de outro mundo que por alguma razão queriam assombrar escritórios, e então o sotaque musical registrou e ele virou-se bruscamente:
-Pelo amor de Deus, custa fazer mais barulho? Tem que chegar assim sorrateiramente pelas trevas, você não pensa que eu poderia-
Ele parou. Martin estava começando a sorrir de novo.
-E sim, disse Luciano, franzindo a testa - Estou aqui. Trabalhando. Qual é a sua desculpa?
Martín inclinou a cabeça pro lado, pensativo, e quando falou, a frase saiu devagar, espaçada, como se ele estivesse tentando lembrar as palavras certas em português:
-Se você não ficasse conversando, disse ele, tropeçando um pouco nos Ss e no som do ‘não’ - Teria terminado seu trabalho. E eu não teria que vir socorrer vocês.
Luciano ficou indignado:
-E por acaso você é o meu chefe? O que é que isso tem a ver com a sua vida?
-Vou ser, disse ele, orgulhoso -Na próxima semana. E vou fazer você trabalhar muito mais.
... tinha tanta coisa errada nessa frase que Luciano não sabia nem por onde começar.
-O quê?
-Sim, repetiu Martín. Agora ele estava sorrindo abertamente - Pode se preparar. E você bebe café demais, também. Não admira que não consiga se concentrar em nada. Você dá muito prejuízo, sabia?
Luciano sentou de novo:
-Você deve estar brincando, disse ele - O universo não ia fazer isso comigo. Agora cai fora, que eu estou ocupado.
-Também não vai poder falar assim comigo, disse Martín - Estou falando sério, só estou terminando um treinamento e vou assumir semana que vem. Onde você estava quando eles deram o aviso?
Luciano ergueu o rosto de novo. Martin parecia estar esperando, medindo sua reação. Seus olhos verdes tinham um brilho divertido e cintilante e cheio de expectativa, e Luciano pensou por um segundo que dava pra entender porque todo mundo estava meio fascinado com esse sujeito.
Porque ele era muito bonito, por isso, e Luciano ficou com um pouco de vergonha de si mesmo por pensar esse tipo de coisa de argentinos irritantes que estavam impedindo-o de terminar o que tinha pra fazer pra poder ir pra casa ver novela, mas agora ele tinha perdido a vontade de dar um murro na cara dele, de modo que abanou a cabeça e voltou a ler a ficha que tinha separado.
O argentino irritante ficou um pouco decepcionado com isso. Ou então era ainda mais lerdo do que Luciano tinha pensado e fazia mesmo muita questão de apanhar, porque se inclinou e puxou a folha de sua mão.
-Então, no que você está trabalhando?
Por um segundo, Luciano ficou mudo de indignação.
E então ele levantou num pulo, e tentou pegar a folha de volta, mas Martin ergueu o braço para tirá-la de seu alcance e isso não podia estar acontecendo. Esse cara ia ser o pior chefe do mundo. Luciano ia cortar a garganta dele e esconder o corpo no picador de papel, e depois achar outro emprego, e agora estava numa posição perfeita pra apertar o pescoço desse maluco que continuava com o braço erguido, aproveitando-se da vantagem da altura, e já que ele estava mesmo fazendo isso Luciano tinha todo direito de matá-lo e estava tão cheio de fúria assassina que a idéia estava começando a parecer cada vez melhor e então-
Então as coisas ficaram meio estranhas.
Ele segurou mesmo o rosto de Martin - não o pescoço, ele não estava tão doido assim, segurou o queixo dele com força o bastante pra deixar marca, e o plano era usar a outra mão pra segurar o braço dele e ver o que acontecia a partir daí, mas então Martin se inclinou e beijou sua boca.
Luciano arregalou os olhos. Até soltou a mão dele. E recuou um passo e então Martin recuou também, o rosto subitamente muito vermelho, todo ele, as faces e as orelhas e o pescoço e tudo, virou o rosto, mordendo a boca com força e Luciano, no meio da surpresa, começou a ficar indignado de novo. Que tipo de idiota fazia uma coisa dessas, se ia ficar tão constrangido logo em seguida?
E depois percebeu que o constrangimento devia ser mais por sua reação, e isso o fez sorrir. Devia era ficar ofendido com essa bobagem toda, e tentar descobrir de onde Martín tinha tirado que podia fazer isso, e se ainda não seria o caso de dar mesmo um soco nele (... ou abrir um processo e ficar rico, também era uma idéia) e Martín parecia tão profundamente desconfortável, mordendo a boca daquele jeito e fazendo nada, não tinha juntado nem forças de pedir desculpas ou de se aprumar e voltar pro buraco de onde tinha vindo, estava ali parado, e aquela cena patética serviu pra Luciano desculpar tudo que ele tinha feito até agora. E pra ser compassivo o bastante pra segurar a nuca dele (pele muito quente e o cabelo fininho e macio e um pouco longo demais, coisa de argentinos) e virar o rosto de seu novo chefe para si e dizer:
-Você é um completo demente. E eu estou ocupado demais pra isso.
Martin respondeu com uma enfiada incompreensível de palavras muito rápidas em espanhol, e parecia tão agoniado que Luciano ficou impressionado, porque ele nem sabia que era possível mudar de humor rápido assim, e pra tantos extremos diferentes.
Ou então sua expressão tinha sido mesmo muito assustadora.
Ele puxou Martín para mais perto. Dava pra ver tudo tão mais claramente, as marcas que ele tinha feito mordendo o lábio e os cílios dourados sombreando os olhos verdes, e o contraste da pele clara com sua mão morena. E então Luciano beijou sua boca também.
A reação de Martín foi doida como ele. O argentino doido jogou os braços em torno de seus ombros e então os dois estavam muito perto, o peito dele apertado contra o seu, e os dedos se enfiando no meio de seu cabelo, e Luciano ficou com vontade de rir no meio do beijo. Assim que terminassem isso aqui, alguém ia ter que internar esse sujeito, para o bem da sociedade. Segurou o rosto dele com as duas mãos para desacelerar um pouco as coisas, e então Martín parou de novo, os olhos muito abertos, tentando entender o que ele estava fazendo agora.
Que, no caso, era estender esse momento, e saboreá-lo bem lentamente. Estava aqui parado num escritório vazio segurando o rosto desse maluco arrogante, sentindo a face dele queimando na palma da mão, sentindo o corpo dele tão próximo, os braços ainda envolvendo seus ombros, esperando, como se Martín quisesse só isso mesmo, iniciar as coisas e depois deixar a iniciativa com ele e essa era a parte incrível que Luciano não ia desperdiçar de jeito nenhum.
Puxou Martin para outro beijo. Devagar, sentindo a boca dele contra a sua, o lábio macio e o contato da língua e a pressão delicada, e depois não tanto, quando Martin o abraçou com mais força e Luciano teve que erguer o rosto para continuar o beijo. Soltou o rosto de Martín para abraçar sua cintura. Era uma sensação estranha, e ao mesmo tempo não tanto, porque achar pessoas mais altas do que ele não era tão difícil, infelizmente, mas não tinha a menor importância o fato de que tinha que inclinar a cabeça pra trás assim, preso no abraço dele, segurando-o com força também. Queria tocar mais, mais coisas, mais pele, mais perto. Até o perfume dele tinha começado a parecer subitamente agradável.
Puxou a camisa de Martin do aperto do cinto, enfiando a mão entre o tecido e as costas nuas, e então Martin desceu a mão dele por suas costas, pelo quadril e apertou, fazendo Luciano gemer no meio do beijo.
Ele se afastou de novo. Tentou desabotoar o cinto de Martin. O argentino olhou para suas mãos, o cabelo liso caindo sobre a testa, os olhos verdes levemente intrigados, o que Luciano achou encantador por alguma razão que nem ele entendia, e então começou a beijar seu pescoço, sem oferecer nenhum tipo de ajuda, o que era... encantador também, esse idiota. Estava abrindo a boca de novo, beijando seu pescoço e mordendo de leve a pele fina, apertando-a entre os lábios, e Luciano tinha certeza de que isso ia deixar uma marca bem visível, mas não conseguia se importar. A umidade dos lábios dele provocava arrepios que desciam por suas costas até a ponta dos pés, e uma vontade de derreter, de se desmanchar, de fazer a mesma coisa. De fazer muito mais. E Martin estava deixando-o desabotoar sua roupa assim, sem pensar, sem crise nenhuma, e isso fazia o estômago de Luciano apertar de um jeito que era muito bom, que ele não sabia bem explicar, poder fazer isso com ele, era estranho e era uma coisa nova. Queria despi-lo inteiro agora, ver como ele era por baixo do terno e da gravata, se por baixo da roupa ele era tão bonito quanto parecia, e Martin parecia não estar se importando nada, satisfeito em abraçá-lo assim e beijar seu pescoço e se deixar admirar e querer e desejar, e em algum lugar no meio dos fusíveis estourando em seu cérebro, Luciano pensou que isso não ia ser uma idéia assim tão boa, devia ter câmeras ligadas por aqui em algum lugar e eles já iam ter problemas o suficiente sem imagens de seu novo chefe sem roupa espalhadas por ai.
Devia parar com isso agora. Devia pegar as coisas e levar esse cara pra algum outro lugar, sua casa, a casa dele, algum motel próximo e conveniente, qualquer coisa que não fosse o escritório. Ou, se ia ser sensato, devia parar com isso de uma ver porque ele nem sabia qual era a desse cara, vai que ele estava com algum tipo de plano maligno de fazê-lo perder o emprego e-
-Por que você parou?, disse Martin, franzindo a testa. Sua voz tinha um timbre irritado, que sumia um pouco porque o sotaque dele continuava engraçadinho, abrindo as vogais daquele jeito. Segurou o rosto de Luciano num gesto determinado, e recomeçou a beijar sua boca, mordendo de leve o lábio, um beijo apertado quase a ponto de ficar meio dolorido, e Luciano soltou um gemido engasgado, esquecendo seus planos de sensatez. Se Martín queria gravações suas soltas por ai, o problema era todo dele, e Luciano tinha mais em que pensar. Como, por exemplo, no fato de que, soltas, as calças dele caiam pelo quadril estreito, o que lhe dava a perfeita oportunidade de enfiar a mão por baixo do tecido e deslizar os dedos pelas nádegas firmes dele e apertar, fazendo Martin gemer de novo, erguer-se na ponta dos pés como se quisesse fugir de sua mão, mas não o bastante pra protestar ou pra se afastar, e os sons que ele fazia eram tão abafados, os gemidos e murmúrios e as palavras em espanhol ditas contra sua pele, e o membro ereto dele apertado contra o seu, tudo aquilo dava um calor, uma coisa queimando seu corpo inteiro que parecia querer explodir, estourar como fogos de artifício, as mãos dele crispando em sua roupa e os braços tão firmes ao seu redor, fortes e apertados, e Luciano deixou os dedos encontrarem a abertura e quando a ponta de seu dedo roçou na entrada dele Martin contraiu os músculos, um som frágil, quase um choramingo saindo de seus lábios, e Luciano beijou o rosto dele, falou em seu ouvido:
-Tudo bem? Quer que eu pare?
A resposta de Martín foi outro beijo em sua boca, forçando Luciano a arquear um pouco as costas, e ele resolveu considerar isso como um sinal de que podia seguir em frente. Segurou Martin pela cintura, afastando-o um passo de si, e tentou se desvencilhar de seu abraço, tentando pensar em alguma coisa que pudesse usar como lubrificante que não envolvesse ir muito longe, que não envolvesse passar o resto do dia tentando limpar óleo de máquina xerox da roupa - ou fazer Martín passar por isso, enfim - e talvez pudesse tentar achar o lugar onde o povo da faxina guardava a coisarada lá que eles usavam e tudo, e então Martin segurou a frente de sua camiseta:
-Onde você vai, disse ele, falando rapidamente, metade em português e metade em espanhol - Eu falei pra não parar!
Luciano olhou para ele. Tão incrivelmente lindo, o cabelo loiro desalinhado na testa, os olhos verdes muito abertos e o rosto corado daquele jeito, vermelho até a raiz do cabelo, a gravata solta e a camisa desabotoada e a calça aberta, tão lindo e disponível e furioso, a testa franzida e a indignação sombreando o rosto inteiro. Luciano sentiu uma ternura completamente inesperada. Fez um carinho no rosto dele:
-Eu sei, disse - Eu só quero achar alguma coisa pra não ir seco assim. Senão vai doer.
-Eu não me importo, disse Martin. Agora ele parecia quase emburrado, o lábio vermelho dos beijos um pouco pra frente, e Luciano nunca tinha visto ninguém com mais de cinco anos fazer bico assim tão sem a menor vergonha, e ele deu uma risada quase sem querer:
-Mas eu sim, então você vai ter que esperar um pouco.
Fez menção de sair, mas Martín segurou sua camiseta com mais força, puxando-o de volta. Luciano ia se armar de paciência pra explicar que assim ele ia se machucar e um dos dois tinha que usar o cérebro, mas Martin segurou seu pulso e ergueu-o até os lábios, beijando sua mão. Luciano sentiu aquela coisa no estômago de novo, aquele aperto de excitação, aquele calor queimando a virilha e subindo e acelerando sua respiração, vendo Martin abrir os lábios inchados dos beijos e lamber seus dedos devagar. A boca dele era tão quente, os lábios se fechando em torno de seus dedos e a língua passando por eles como se a pele tivesse sabor, e Luciano achou que estava esquecendo de respirar, que seus olhos estavam arregalados e que se ele não fizesse alguma coisa logo, qualquer coisa, ele ia... ia jogar Martin no chão aqui mesmo e-
Martin largou sua mão, então, abriu aquele sorriso auto-satisfeito, como se soubesse exatamente o efeito que estava causando. Então abraçou o de novo, colando o peito ao seu, escondendo o rosto em seu pescoço, e era uma coisa tão terna, tão insuportavelmente doce pra se fazer, que Luciano abraçou sua cintura e o apertou contra si por um momento, antes de enfiar a mão dentro da roupa dele de novo. Enfiou o dedo bem devagar, sentindo a respiração acelerada de Martin em seu pescoço, dando tempo pra ele reclamar ou qualquer coisa, mas Martin não disse nada, e ele enfiou outro dedo. Era quase surreal, estar fazendo isso aqui nesse escritório com um cara que tinha conhecido ontem, e que estava agora beijando seu ombro e se acabando em seus braços, o cabelo fino e dourado quase entrando em sua boca, esfregando a ereção dele na sua, e Luciano começou a mover os dedos, devagar para que ele se acostumasse, querendo provocar mais daqueles sons que ele fazia. Martin começou a falar, ainda em espanhol, e Luciano parou o movimento, sorrindo:
-Quer que eu pare?
-Não, disse ele, voltando para o português, -Não! Luciano- eu vou-
-Vai nada, disse Luciano, ainda sorrindo. Ele puxou a mão, tirando os dedos de dentro dele, e Martin gemeu de novo, mas dessa vez Luciano ignorou. Ele segurou Martin pela cintura de novo, virando-o de frente para a mesa. Alguma coisa passou pelos olhos verdes, uma leve incerteza, mas ele apoiou as mãos na mesa, inclinando-se para frente, e Luciano baixou a calça dele até os joelhos, depois a cueca. Ouviu Martin murmurar:
-Por que você está vestido?
-Você também está, disse Luciano. Ele desabotoou a própria calça, baixou o zíper, vendo como Martin retesava os músculos ao ouvir o som, como abaixou a cabeça, apoiando os antebraços na mesa, o cabelo escorrendo na frente do rosto, e Luciano achou que ele tinha ficado meio tenso de repente. Enfiou o mesmo dedo novamente, o que não ia deixar o cara mais calmo, mas pelo menos ia distrair, e depois mais um e mais um, e aí esperou um pouco até que Martin se acostumasse, para então abrir os dedos e prepará-lo e a respiração de Martin começou a ficar mais alta, mais trabalhosa, e ele voltou a xingar em espanhol, fazendo Luciano sorrir de novo. Não ia agüentar muito mais, era como se todo o sangue de seu corpo estivesse concentrado na virilha, queimando, e ele tinha que fazer alguma coisa. Segurou os quadris de Martin com as duas mãos, preparando-se, e Martin começou a xingar de novo, irritado com a demora e Luciano resolveu que tinha atormentado demais a pobre criatura.
A penetração foi lenta, menos pra atormentar do que para não machucar mesmo, mas Martin era tão esquisito que parecia não se importar com a dor que com certeza estava sentindo, ou então ele gostava, porque estava lutando para acelerar as coisas, e Luciano teve que segurar os quadris dele com mais força para mantê-lo parado.
Isso foi mais pra atormentar mesmo. Martin era tão quente e tão apertado e tão impaciente e aquele rio contínuo de palavras em castelhano naquele som musical e assoprado, rápido demais para Luciano entender do que ele estava falando, e então estava se mexendo sem ter decidido se mexer, entrando e saindo devagar, e então mais rápido porque era impossível controlar o ritmo, fazer qualquer coisa além de seguir o impulso de seu corpo, e daí Luciano viu quando Martín mudou de posição para tentar tocar em si mesmo, e segurou seu braço antes que ele pudesse.
Dessa vez o que Martín disse foi tão explícito que até ele entendeu.
-Deixa, disse Luciano, ofegante, e teve que começar de novo - Deixa eu mesmo-
Não ia dar pra explicar. Sua voz estava trêmula demais. Ele envolveu a cintura de Martín com o braço, puxando-o ainda mais perto, entrando ainda mais fundo, inclinou-se sobre ele o bastante para beijar as costas úmidas de suor, uma das mãos espalmadas sobre o peito dele, descendo para o músculo firme da barriga, e a outra segurando o membro dele e ouviu quando Martin gemeu alto, buscando aumentar aquele contato e querendo se esfregar em sua palma, tão perdido naquele momento e sem se preocupar com dignidade nenhuma, nada daquela segurança arrogante de uma hora atrás, nada além do corpo suado buscando prazer, e do calor e do aperto e do contato e da delícia que era aquilo tudo, ele assim, aqui, e Luciano fechou os olhos, sentindo a explosão de fogos de artifício atrás das pálpebras dentro de seu cérebro, sentindo o sêmen de Martín explodir na palma da mão, seu próprio corpo parando e o universo inteiro e tudo que existia eram os dois ali num escritório vazio, e um som abafado e a respiração.
Depois, quando seu cérebro voltou a funcionar e ele conseguiu pensar de novo, quando podiam ter se passado três minutos ou três milênios, ele deu um passo para trás, deixando Martin dobrado sobre a mesa, ainda sem reação. Tinha que- pensar, em alguma coisa, tinha que...
Martin tentou endireitar as costas, apoiando a mão sobre a mesa. Luciano segurou-o por instinto, abraçando sua cintura e puxando-o para si.
Martin pareceu um pouco surpreso, mas deixou-se levar. Parecia mais curioso para saber o que Luciano queria fazer com ele agora, e quando se viu preso num abraço ele sorriu, como se isso fosse mais uma prova de sua superioridade, de alguma forma.
Devia ser bom ser assim, pensou Luciano. Criaturinha irritante. Mas tinha qualquer coisa de magnético naquele sorriso metido a besta, e no jeito como ele estava sendo maleável, deixando-se levar sem resistência. Como ele parecia não se incomodar com nada, nem com o abraço nem com o fato de que estava com a roupa toda aberta e provavelmente suja. Só abraçou Luciano de volta, apoiando a testa na sua. Estava com os olhos fechados, o rosto ainda ruborizado, respirando fundo, tentando recobrar o fôlego.
Luciano sorriu, sentindo de novo aquele carinho estranho e fora de lugar, e uma vontade de rir sem nem saber bem de que. Do absurdo daquilo tudo, talvez. De como ele era bonito, de como os cílios dourados pareciam brilhar assim contra a pele, de como ele ficava tão errado assim, nesse abraço desajeitado, e ao mesmo tempo parecia se encaixar tão bem.
-Eu sabia, murmurou Martín, abrindo os olhos pela metade, a voz sonolenta - Eu sabia que você queria.
O sorriso de Luciano aumentou:
-Sabia nada. Eu achava você um cretino.
-Mas queria assim mesmo, disse Martin, satisfeito e imperturbável. Ele deitou a cabeça em seu ombro, e Luciano revirou os olhos, ajeitando melhor os braços em torno do idiota. Suspirou. Ia ter que fazer alguma coisa. Abotoar a calça dele, pelo menos.
Daqui a pouco.
-Eu devia estar trabalhando. Vou ter que ficar aqui amanhã também, graças a você.
-Tudo bem, disse Martín - Eu não vou demitir você por isso.
Luciano beliscou a bunda dele. Martin fez um som muito pouco másculo, e depois ergueu o rosto sonolento, a testa franzida de novo:
-Assédio sexual. Vou reclamar de você amanhã.
-Eu não vou agüentar isso, disse Luciano - Vou acabar pedindo demissão.
Martin deitou em seu ombro de novo, e nem se incomodou em responder. Luciano também não pensou muito no assunto. Ia ter que dar um jeito nessa bagunça, e tentar lembrar o que era mesmo que ele devia ter ficado fazendo, e tudo, mas daqui a pouco. Em um minuto.
Queria ficar assim só um pouco mais, segurar o corpo relaxado de seu novo chefe assim mais um pouco, antes de deixar a vida voltar ao normal. Queria beijar a boca dele mais uma vez. Que foi exatamente o que ele fez, ainda naquele abraço apertado, os corpos quase colados, sentindo o cheiro de loção que Martín ainda não tinha perdido. Beijou sua boca devagar, e sorriu de novo quando Martin retribuiu - precisava parar de fazer isso, sorrir no meio dos beijos, Martín ia achar estranho - e deixou o resto todo pra depois.
Agora estava ocupado demais pra isso.
~*~
/hides