(no subject)

Dec 14, 2005 18:30

Breve momento de reflexões bestas. Estou na casa da minha namorada, e tá rolando uma festa no Bauru Tênis Clube, fazendo um barulho infernal. No momento, estou entre o desmaio de sono e a insônia provocada pela "música" que está sendo tocada - o ponto exato, diria Spider Jerusalém, para fazer jornalismo ou escrever posts para o lj -, concordando, a cada minuto que passa, cada vez mais com a tese adorniana de "regressão da audição". O que me motivou a escrever isso aqui - para além da impossibilidade de sono com essa merda - é o próprio repertório. Deitado na cama, os pensamentos foram germinando até uma idéia meio difusa acerca da pós-modernidade na nossa cultura. Motivada pelo repertório, porque há pouca coisa mais pós-moderna que o repertório colocado pela bandinha que está tocando na porra da festa: misturas inusitadas, mas sem referência, muito barulho por nada, a vitória da representação, a massificação da histeria em níveis nunca dantes alcançados. Esses tempos de Bulevar - com bandas que fazem questão de sequer ler as letras das músicas em inglês - me levaram à conclusão de que essa falta de referência - "I like the music more than the words", num sampler do Merda - é um misto de regressão adorniana com traços de cultura pós-moderna, com a vitória já referida da representação.
Alguns pontos acerca disso. Apesar do que queriam Deleuze e Guattari, a cultura pós-moderna é mais representacional do que a cultura moderna. Obviamente, a filosofia pós-estruturalista também o é, apesar dos protestos contrários dos esquizoanalistas. Como não o ser, baseando toda uma forma de pensar na mania francesa de que o meu discurso sobre o mundo é mais real do que o mundo? Na tradição pós-estruturalista, idealista-apesar-de-pregar-um-empirismo-antintelectualista, Feyerabend da vida? Me impressiono com as extensões desse pensamento na FAAC, por exemplo. Tomo como exemplo mais próximo (atual) a arquitetura: todo mundo lê Deleuze (ignorando, logicamente, o lado Guattari da esquizoanálise), um pensador de teorias cujas implicações alcançam basicamente a epistemologia e a psicologia (ainda que se pretenda fundador de um projeto “ético-estético”, dificilmente é possível encontrar-se uma preocupação política válida no projeto pós-estruturalista), com poucas reflexões para - por exemplo - a epistemologia do projeto. Ninguém mais lê Argan. Ninguém mais lê Artigas. Esses dois, quando se trata de projeto, são primores. Todos preferem ler o quê está na moda - no caso, Deleuze -, sem atentar criticamente para as implicações dessa esquizoanálise. Como não enxergar que as possíveis implicações práticas do pós-estruturalismo no campo da arquitetura já vêm sendo implementadas há tempos - em Las Vegas, ou na arquitetura de shopping centers - ? É muita cabacice.
Enfim, a coisa anda complicada no campo do pensamento e da reflexão. Mas nem sequer nesse campo esses caras se colocam, já que o antintelectualismo desse povo coloca o mundo como uma representação fundada nos sentidos (alguém mais percebeu a contradição? Ou fui só eu?). Quando discute-se esse ponto, é só falar alguma frasezinha sem sentido, bem no estilo Lacan, que as menininhas vão pagar um pau e você desbanca a discussão. Afinal de contas, em última instância eu sou só um mero positivista, com uma visão pragmática do mundo. Como posso eu discutir com esse pessoal?
Aliás, já que filosofia é a pauta aqui, e já que ela surgiu como questão em alguns posts e comentários anteriores - referentes ao escritório -, acho que, por hobby, vou escrever alguns dos meus pressupostos de filosofia da mente. Sabe como é que é, relação mente-corpo, processos emergentes, modularidade da mente, psicologia evolucionista, bla bla bla. Se bem que acho que eu não vou ter paciência pra isso.

rants, filosofia

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