(no subject)

Jan 22, 2011 01:04

Sempre amei esse poema, mas ele nunca combinou comigo. Minha vida sempre foi mais tipo o Soneto de Fidelidade, do Vinicius de Moraes, do que esse poema cheio de auto-negação.

Até agora, claro. Guardadas as devidas proporções, é um retrato fiel do meu momento atual.



Não Te Amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

almeida garrett, poema, eu

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