Confesso que não tinha pensado nessa questão de votar no SIM ser um voto de confiança na capacidade legislativa do Governo - é mais um argumento para o Não, obviamente. Se estivessemos a falar da capacidade de fazer apresentações em PowerPoint, aí o caso já mudava de figura - nisso os tipos são brilhantes.
Se o Não ganhar, evidentemente que haverá outro referendo - e haverá referendo até que a resposta certa ganhe, não te iludas. É assim sempre que o povo se atreve a discordar do que as luminárias que detêm o poder pensam sobre qualquer assunto. Critérios de democracia, mas de uma democracia muito lá deles.
Essa então, foi ainda mais grave. Quem anda atento, sabe muito bem o que anda a passar-se nesse campo. Ela está em marcha acelerada, e sem referendo. Tinha-me esquecido de referir que quando conseguem disfarçar, nem sequer se dão ao trabalho de fazer novo referendo, limitam-se a marimbar-se no resultado e fazem a coisa na mesma.
Caso o sim ganhe e o referendo seja vinculativo, o Governo fará uma alteração ao Código Penal por forma a incluir mais uma situação de despenalização de aborto - no caso de ser pedido pela mulher até às 10 semanas de gravidez, e realizado em estabelecimento de saúde legalmente autorizado
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Bom, em primeiro lugar, na minha modesta opinião, a decisão do aborto ser ou não vinculativo deve ser tomada antes dos resultados desse mesmo referendo, ou não? Senão parecem os putos quando dizem "ah então assim não vale".
Em segundo lugar e respondendo à tua pergunta do ultimo parágrafo: se o governo põe nas minhas mãos a decisão sobre uma matéria, eu gosto de saber o que é que esse mesmo governo vai fazer com o meu voto, seja ele qual for. Seguidamente, a minha duvida reside fundamentalmente neste princípio: Até às 10 semanas de gravidez já há vida ? - eu acho que sim Se assim for, uma mulher que aborta deve ser legalmente criminosa ? - nem sempre e por isso é que colocava a questão de saber como se vai agir com as mulheres que querem abortar às 11 semanas.
O critério das 10 semanas reside em absoluto no marketing político. Às 12 semanas é a primeira ecografia, e escuso de te explicar o que lá se passa e o que lá se vê, pelo que isso iria dar mais possibilidades ao não de ganhar. Às 11 semanas, era uma bandeira do caraças, além de que se poderia argumentar que há sempre um risco implícito de 15 dias, em média, na contagem do tempo de gravidez. Isto foi bastante bem pensado, e o Governo pode ser mau a governar, mas é excelente no marketing político.
Isso já é teoria da conspiração :) O limite das 10 semanas não foi inventado por este Governo e é um limite utilizado em vários outros países, que tem apenas a ver com o estado de desenvolvimento do feto. Aliás, até é um limite conservador face a vários outros países que despenalizam até às 12 semanas.
Enganas-te. Tenho muitas mesmo. E posso dizer-te que a principal prende-se quando penso em casos como o da minha mãe, que antes de mim e da minha irmã, teve uma gravidez desejada, só que esteve em contacto com uma pessoa com rubéola. Como sabes, isso pode dar origem a gravíssimas mal formações e por isso mesmo deveria estar previsto na lei que a minha pudesse abortar. Só que o prazo iria expirar caso a minha mãe esperasse pelo resultado da análise à rubéola, e isso sim é hipócrita, a minha mãe viu-se obrigada a fazer um aborto clandestino, não obstante a legitimidade do problema
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É um argumento válido - mas que me dizes de todas as mulheres que, pelas mais variadas razões, decidem ter um aborto que não cai dentro das situações previstas na lei actual e têm de passar por situações semelhantes? Faz sentido que para além do drama que é o aborto por si só, tenham de passar por um processo legal, por um julgamento e eventual condenação (mesmo que esta não exista, há sempre a humilhação de todo o processo até aí)?
A questão de como tratar uma situação que se conhece já muito próxima das 10 semanas é uma situação importante mas de pormenor face à questão essencial, que é como tratar as situações que estão dentro das 10 semanas mas que caem fora das excepções previstas na lei - devem ou não ser criminalizadas?
Entendo e revejo-me nas tuas dúvidas mas reconheço que ser mãe mudou muito a minha perspectiva sobre este assunto.
De qq forma, continuo a achar que o aborto vai existir sempre e que a questão aqui é ter dinheiro e poder fazê-lo em condições, ou não ter dinheiro e fazê-lo sabe-se lá em que condições.
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Se o Não ganhar, evidentemente que haverá outro referendo - e haverá referendo até que a resposta certa ganhe, não te iludas. É assim sempre que o povo se atreve a discordar do que as luminárias que detêm o poder pensam sobre qualquer assunto. Critérios de democracia, mas de uma democracia muito lá deles.
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Em segundo lugar e respondendo à tua pergunta do ultimo parágrafo: se o governo põe nas minhas mãos a decisão sobre uma matéria, eu gosto de saber o que é que esse mesmo governo vai fazer com o meu voto, seja ele qual for.
Seguidamente, a minha duvida reside fundamentalmente neste princípio:
Até às 10 semanas de gravidez já há vida ? - eu acho que sim
Se assim for, uma mulher que aborta deve ser legalmente criminosa ? - nem sempre
e por isso é que colocava a questão de saber como se vai agir com as mulheres que querem abortar às 11 semanas.
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O limite das 10 semanas não foi inventado por este Governo e é um limite utilizado em vários outros países, que tem apenas a ver com o estado de desenvolvimento do feto. Aliás, até é um limite conservador face a vários outros países que despenalizam até às 12 semanas.
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A questão de como tratar uma situação que se conhece já muito próxima das 10 semanas é uma situação importante mas de pormenor face à questão essencial, que é como tratar as situações que estão dentro das 10 semanas mas que caem fora das excepções previstas na lei - devem ou não ser criminalizadas?
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Entendo e revejo-me nas tuas dúvidas mas reconheço que ser mãe mudou muito a minha perspectiva sobre este assunto.
De qq forma, continuo a achar que o aborto vai existir sempre e que a questão aqui é ter dinheiro e poder fazê-lo em condições, ou não ter dinheiro e fazê-lo sabe-se lá em que condições.
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