Pra chegar até aqui…

Jun 16, 2022 23:03



Deitada na nossa cama, após finalizarmos o último fucking dia da reforma do nosso quarto (a pequena reforma que pareceu uma eternidade), me pego a segundos de dormir lembrando dos meus 16 anos, época em que eu fui menor aprendiz - era assim que chamava na época -, me lembro do esforço pra acordar e ir à formação de rotinas administrativas no chiquérrimo Edifício Paulo Suarez, que fica (ou ficava) ao lado do antigo shopping Iguatemi. Acordava umas 5h40, pegava ônibus lotado, ia torcendo pra que alguém descesse no meio do caminho pra eu sentar um pouco no trajeto de casa pro Edifício chique.
Ao chegar na estação de ônibus precisava atravessar duas passarelas das grandes, com umas sapatilhas bem apertadinhas, lembro de andar esbaforida, no calor em Salvador, com os pés fazendo calos nos calcanhares, muito barulho de ambulantes vendendo capinhas de celulares e lembro minha respiração curta, ansiosa pra que aquela manhã passasse logo, pra que aquele dia passasse, mês, ano… pra saber qual seria o resultado de tanta agonia, de tantos dias acordando muito mais cedo do que gostaria, cumprindo uma agenda que era responsável demais pra alguém da minha idade. ‘Pra quê ser responsável tão nova?’ Eu achava que era pra ter independência financeira, o que não deixa de ser verdade, mas agora divagando na cama da nossa casa depois do último dia de reforma e de dar por finalizada a nossa mudança pra casa nova, percebo com uma clareza tão óbvia: Era pra chegar até aqui.
Eu consegui, Amanda de 16.
Não consegui antes dos 25, conforme eu achei que seria. (afinal 25 pra mim já era ser velha demais naquela época), mas consegui na hora que abri mão de quem pensava ser e abracei quem realmente sou. Bom… isso aconteceu antes dos 30, apesar do cronos ser bastante irrelevante à essa altura. O que importa mesmo sou eu lembrar que o plano original era um dia ter a sorte de poder respirar mais pausadamente, sem tanta pressa de chegar ao topo do mundo, e agora ter a perfeita consciência de que poderei me permitir isso.
Não foi fácil, houve tantos tropeços, mas esse tempo chegou e claro que terão dias mais esbaforidos no futuro, afinal ainda sou eu, mas trago à consciência que correr já não é preciso (talvez nunca tenha sido). Abro um honesto espaço em minha mente para que novas missões sejam criadas (dessa vez com mais leveza e autogenerosidade), abro meu coração para o que vai chegar depois daqui, mas pra colher do meu fértil plantio e para plantar mais sementes boas.
maaaas tudo isso ficará pra outro dia, agora voltarei pros braços de Aline (meu Deus, como é bom amar e ser amada!!), escutando o ronquinho de Nala na caminha dela, a respiração que oscila entre de Kali e Tutu aos pés da cama, no silêncio ao redor, mas principalmente irei me aconchegar pra sentir o que pulsa em meu coração nesse momento.

ps.: pra chegar até aqui, eu faria tudo de novo, se preciso fosse.

Amanda F. Pinto
16/06/2022



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