Title: Photography
Pairing: ShigePi
Genre: Romance, Fluffly, Yaoi
Ranting: PG-13
Photography
Shige sempre amou fotografia. Aliás, é uma de suas poucas paixões as quais ele se dedica tanto. E é por essa razão que não escolheu trabalhar com isso. Sabia muito bem que a arte de fotografar deveria ser feita quando se está inspirado, assim como com a escrita (sua outra paixão, mas que não recebe tanta atenção quanto a anterior), porque senão não poderia ser considerada arte e sim somente uma simples fotografia, não é?
Ah, e falando em inspiração... Há quanto tempo fora sua última visita à Shige? Dias, meses? Por pelo menos quatro meses não conseguia produzir uma foto que o agradasse. Sim, mesmo sem a companhia dela, continuava a tirar fotos na esperança de encontrá-la aonde justamente ela não aparecia, apenas para ser tomado pela frustração logo em seguida.
Bufando cansado por mais uma tentativa mal sucedida, Shige encosta suas costas na cadeira, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos enquanto passa as mãos no cabelo, irritado. Após se acalmar um pouco, mira o teto do quarto decidindo dar uma volta no parque perto de casa.
Carregava sua câmera como sempre, mas dessa vez a manteve guardada na bolsa. Sabia que seria difícil achar alguma coisa que lhe agradasse a ponto de fazê-lo eternizar em um papel que ele mesmo imprimia. Caminhou por dez, quinze minutos e quando estava cogitando a idéia de deixar a fotografia de lado e nesse período concentrar-se apenas em escrever, foi que seus olhos encontraram-no.
Aquele total estranho nada fazia além de dormir ali, no pé de uma árvore qualquer que o protegia para que os raios de sol não o atingissem diretamente, apenas mantivessem o ambiente aonde repousava aquecido o suficiente para que aquele visitante não adoecesse.
A visão que tinha ali era simples, demasiadamente simples. Era apenas um homem adormecido num parque. Não possua nenhuma outra mensagem além daquela, diferente de todos os outros trabalhos que produzira, mas por algum motivo aquilo o atraiu mais que tudo.
Retirou sua câmera e a montou em pouco tempo, um pouco afobado e apressado, já que não queria perder aquela chance, sentia-se na obrigação de fotografar. Estando os últimos ajustes prontos, clicou. Observou a paisagem mais uma vez e foi para casa.
Estava tão ansioso que suas mãos inquietas tiveram que ser controladas com uma enorme força de vontade. Não podia estragar aquela foto, muito menos sem saber qual fora o resultado. Suspirou longamente para se acalmar, caso contrário suspeitava que fosse ter um ataque do coração.
Com cuidado extremo segurou o fino papel em suas mãos, ansiedade o corroendo por dentro, e sentindo o tempo quase parar olhou a impressão em suas mãos. Deus! O que era aquilo? Seus olhos arregalados de surpresa seguram lágrimas de felicidade e alívio. Aquela obra em suas mãos era muito mais que obra de arte! Superava em muito todos os seus antigos trabalhos.
O que era aquilo que o fascinava tanto naquele papel? Não sabia. O retrato de um parque ao pôr-do-sol, com um total estranho rapaz apenas de calça jeans escura, botas e camiseta de manga simples, aparentando ter um sono tranqüilo, calmo, igual ao pequeno sorriso em seus lábios. Era um belo rapaz, Shige admitia, mas não era apenas isso.
Talvez fossem os poucos raios de sol que em sua luta para tudo iluminarem conseguiram em seu esforço único passar por entre algumas folhas e iluminar o rosto do ser ali adormecido, dando-lhe a aparência de um ser celestial, não a de um mero mortal, ao mesmo tempo em que aproveitavam para aquecê-lo.
Parecia-lhe também que os raios bloqueados pela árvore protetora de seu sono tornavam-se sua aura poderosa, como se emitida por ele mesmo. Ah, Shige suspirou, se fosse criar uma imagem de um anjo, com certeza seria essa pessoa, exatamente desse jeito. Estava tão encantado, que entristeceu ao pensar na possibilidade de não encontrar mais seu modelo. Como podia ter ido embora sem ao menos saber seu nome? Era imperdoável o que havia feito e começava a se arrepender agora...
No dia seguinte, no trabalho, havia levado a foto consigo, pois para seu próprio espanto, descobriu que não conseguia ficar sem admirá-la por muito tempo. Não sabia ainda o que é que aquela foto possuía, considerava-a algo místico, prometeu a si mesmo que iria descobrir a sua magia, até que teve seus pensamentos interrompidos pelo seu melhor amigo que tomando o objeto de suas mãos, analisava-o com um sorriso de satisfação nos lábios.
-Vendo isso aqui, fico orgulhoso de mim mesmo por te escolher Shige. - recebendo uma expressão questionadora, continuou. - Minha galeria está sem exposição no momento, aí eu estava pensando... Talvez você deva apresentar seu trabalho Shige. Veja bem, uma obra como esta aqui - apontou a foto em suas mãos - não pode ficar escondida!
-Kei... Já falamos sobre isso...
-E estamos falando de novo. Vamos Shige! O que custa? Pense por outro lado então! Você irá me ajudar! Sabe que minha galeria não pode ficar sem nada para expor. E o próximo evento será só daqui a seis meses!
~*~
Com vontade de dizer um palavrão, Shige se controla ao ver duas senhoras de idade sentadas no banco, conversando alegremente. Levar guarda-chuvadas não era o que queria. Já tinha dor de cabeça o suficiente ao ter aceitado o pedido de seu melhor amigo sobre montar uma exposição, muito obrigado. Bufando cansado, seus olhos dirigiram-se àquele local em que havia encontrado a cena que havia lhe proporcionado tanta inspiração. Cogitou a hipótese de aquele ser belo e que ainda não conhecia estar ali novamente, negando a si mesmo a possibilidade de encontrá-lo mais uma vez, porém quando deu conta, já caminhava naquela direção.
Supriu um sorriso de satisfação pelo que viu. Parece que o ser divino era um freqüentador assíduo daquele parque afinal. Dessa vez não dormia e Shige sentiu-se hipnotizado por suas escuras orbes ônix, que se concentravam nas palavras do livro que carregava consigo. Seus atraentes lábios carnudos e convidativos se abriam em um leve sorriso, demonstrando seu prazer ao ler. Suas costas encostadas à árvore, uma perna flexionada e outra esticada; Shige poderia comparar sua postura à de um nobre de séculos passados, que mesmo em seu período de lazer transbordava respeito, elegância e sem dúvida alguma encantamento por quaisquer movimentos que fazia.
A máquina digital que carregava registrou aquela imagem, entretanto dessa vez não teve a mesma sorte que antes. Quando abaixava seu instrumento de trabalho, um par de atentos e encantadores olhos negros observavam-no em leve desconfiança. Sua respiração se prendeu e não conseguia nem ao menos engolir seco. Sentir aqueles olhos em si era realmente outra coisa. Chacoalhou levemente a cabeça para os lados na tentativa de quebrar o contato visual e poder se concentrar no que dizer (tática que por sorte deu certo).
Acanhado, aproximou-se devagar, pedindo-lhe desculpa por tirar a foto sem a sua permissão. Sabia muito bem os problemas que suas ações poderiam causar caso o encantador estranho quisesse acusá-lo e o silêncio que o próprio ainda mantinha assustava Shige. Em seu nervosismo, contou de modo acelerado sobre os motivos de querer tirar aquela foto, da proposta de seu amigo, e por final, acabou por pedir àquele homem para ser seu modelo, arregalando os olhos ao perceber o que acabara de fazer. Abriu e fechou a boca várias vezes pensando no que dizer, entretanto recebeu um sorriso em resposta.
A voz em tom grave, porém suave de se ouvir, saiu de seus lábios, pedindo com gentileza para poder ver a foto. Estendeu a câmera e torceu para que o outro não notasse suas mãos que tremiam levemente, e estava um pouco desconfiado (afinal, uma câmera profissional é cara demais) mesmo sabendo que se ela quebrasse era o que merecia por invadir a privacidade dos outros.
Assistia atentamente os olhos dele se arregalando em surpresa ao ver sua própria foto, para depois analisar com calma e por final ganhar um brilho de curiosidade ao voltá-los à Shige. Após algum tempo em silêncio, como se ponderasse um assunto e analisasse o homem que estava à sua frente, sorriu estendendo a mão.
-Aceito sua oferta. Aliás, meu nome é Tomohisa Yamashita.
Sem acreditar no que ouvia, apertou a mão que lhe era estendida e amaldiçoou o nervosismo que se transmitia em sua voz.
-P-Prazer. Me chamo Shigeaki Kato.
~*~
-Um pouco mais pra esquerda. Isso! Perfeito.
Era a primeira vez que tirava fotos de um modelo. Havia vezes que tinha fotografado Kei, mas era diferente. Aqui os dois estavam levando a sério, não era apenas para a diversão. Diferente de Kei e sua posições originais, Yamapi (como aprendeu a chamá-lo) escutava a tudo que Shige dizia e dava suas sugestões sempre que achava necessário.
Esperava que tivessem problemas, principalmente para conseguirem manter o mesmo olhar sobre o que iriam transmitir em cada foto, porém fora surpreendido. A sincronia que estabeleceram era impecável. Nunca havia visto algo do tipo. Em muitas experiências onde trabalhava como assistente de fotógrafos profissionais, nem mesmo nelas havia presenciado uma sincronia tão forte quanto a que possuía.
Yamapi era mesmo um mistério. Não que estivesse reclamando, porque a situação era exatamente o contrário. Ele o fascinava tanto que sua curiosidade a cada momento aumentava de grau. E pensar que até mesmo agora ainda não havia conseguido resolver o mistério das fotos lhe atrair...
Numa dessas vezes em que esperava seu companheiro de trabalho temporário chegar, ficou observando as fotos que havia tirado no dia anterior, sendo flagrado pelo mesmo momento depois. Vermelho de vergonha tentou se explicar, mas ao avistar o sorriso divertido presente nos lábios que já tinha decorado em sua memória, parou e olhou desconfiado.
-Você sabe, não é?
O riso que se fez presente ao ouvir aquela pergunta foi a resposta que estava esperando, mesmo que ele tenha dito “Não, não sei do que está falando...”.
-Por que não me diz logo?
-Dizer o quê Shige? - fazendo-se de desentendido, era claro o divertimento que estava tendo “torturando” Shige.
-Me conte logo o que é aquilo de tão especial que eu vejo nas fotos! - fechando a cara ao ouvir o riso se tornar mais forte, esperou paciente que o outro lhe contasse o que queria ouvir.
-Creio que isso você terá que descobrir sozinho... Não se preocupe do jeito que você é inteligente, vai descobrir rapidinho.
-Yamashita-kun... Estou tentando entender isso desde aquele dia no parque! - meu tom um pouco desesperado, soando como se eu estivesse implorando, o fez rir mais ainda - É sério!
-Talvez você esteja observando pelo ângulo errado. - disse me devolvendo sua foto - Talvez não seja eu quem você deve analisar para saber a resposta. Quem sabe não é você quem deve ser analisado? Por mais que o ambiente ajude, tudo depende do fotógrafo, não é mesmo?
“Tudo depende do fotógrafo”. Essas palavras ecoaram em sua cabeça mais uma vez. É certo que a arte expressa o que seu criador quiser que ela passe; que para ela ser uma obra prima, de nada depende além dos sentimentos que o artista mantinha na hora da criação. Estado de espírito? Sentimentos? Franziu o cenho analisando a foto mais uma vez. O que é que eu sinto no momento de fotografá-lo? Frustrado por descobrir outra pergunta que ainda não tinha resposta, virou para o lado e adormeceu. Quem sabe uma boa noite de sono não o ajudasse?
O tempo passava rápido, com pressa, não os deixando desfrutar o momento como deveria ser feito. Era como se ao ir a um restaurante de primeira classe e tivessem que engolir a comida sem ao menos saboreá-la, sentir a textura e o gosto divino que a mesma possui. Ainda que não houvesse descoberto a resposta ainda, Shige sabia muito bem que nunca havia se divertido tanto antes. A presença de seu modelo tornou-se tão natural que até mesmo quando estava em casa imprimindo as fotos ou tratando-as, chamava por seu nome para comentar algo, até se dar conta de que o outro não estava. Engraçado notar que prestava atenção demais a ele. Sabia quando o outro não estava bem, quando estava perturbado, quando não havia dormido direito, preocupado, triste, alegre... Mesmo que Yamashita fosse bom em tentar escondê-los.
Sem que percebessem, os preparativos já estavam prontos e a exposição sendo inaugurada com sucesso, para a surpresa de Shige e alegria de Koyama, que pulando de felicidade fazia questão de jogar na cara de seu melhor amigo o quão certo ele estava e exagerando, dizendo que depois dessa exposição iria ficar famoso e rico. Shige apenas riu nervoso e quase não conseguia cumprimentar direito seus convidados, sendo ajudado pelo seu amigo que por conta da excitação falava demais, sem dar chance aos outros.
Estranhou, também, o fato de muitas pessoas (depois das mesmas comprarem algumas fotos) perguntarem a quanto tempo conhecia Yamashita, comentarem que as fotos eram bastante inspiratórias e desejavam que os dois tivessem muitas felicidades, mas quando estava pensando em deixar isso de lado, Yamashita chegou, fazendo Shige não conseguir ignorar olhares significativos de todos voltados aos dois.
-Parabéns. Parece que sua exposição é um sucesso. - riu levemente ao ouvir isso.
-Como se você não tivesse feito parte disso. O parabéns é para nós dois, não é?
-Hum... Talvez. - Yamapi respondeu brevemente, observando a sua volta com curiosidade, não deixando de notar os olhares que recebeu logo ao passar pela porta ao entrar. - E então? Conseguiu sua resposta?
-Se você me ajudasse, quem sabe. - fez bico, recebendo uma risada divertida em resposta. - Vai me deixar na curiosidade por acas... - distraiu-se ao ouvir Kei no celular, conversando com alguém e ao notar sua expressão calma, a mudança no ar à sua volta para uma que lhe era familiar, sentiu tudo se encaixar. - Ah... - virando-se rapidamente, analisou as suas fotos, entendendo agora o porquê de ter sido atraído à Yamashita desde o começo. - Você sabia?
-Desde o dia que vi a foto na sua câmera. Aliás, esse foi o motivo de eu aceitar sua oferta.
-Ah, eu... Bem... Anh... - sentindo seu rosto corar, Shige tentava formar uma frase sem sucesso, ficando ainda mais nervoso quando Yamapi aproximou-se e acariciou sua bochecha com a mão direita.
-Eu também te amo - riu breve antes de selar seus lábios com os da pessoa à sua frente.
Shige ama fotografia. Aliás, é seu hobby preferido. Mesmo porque foi por causa dela que conseguiu achar Yamapi, não é?
(Arquivo)