Mãos.
Mãos, gritos, lutas e sangue.
Ah, quanto sangue.
E era o sangue dele em minhas mãos, toda noite de sono que eu tinha depois que descobri.
Depois de tanta coisa juntos, tantos sacrifícios para manter essa relação na maior discrição possível... E tudo pra que? Pra você estragar assim, Takanori?
Eu assisti tudo, bem de perto.
Há semanas, eu segui Ruki em seus passeios depois do ensaio, logo depois que ele se despedia de mim, dizendo que me encontraria em casa, perguntando o que eu queria comer...
Mas logo no primeiro dia eu vi qual era o jantar do vocalista, longe de mim.
Eram beijos e abraços com tanta fome trocados num beco nojento e tão atípico do pequeno que, só a cena, me irava.
Não magoava, não... Machucava.
Irava.
Eu não era suficiente? Eu não o amei do modo certo? Todas as merdas que eu abdiquei da minha vida por causa de um namoro, que na minha cabeça, era eterno?
Um amor verdadeiro que só existia na minha cabeça?
E foram questionamentos nessa linha que me levaram a segui-lo, cada dia com mais discrição, e a cada novo encontro Ruki parecia mais desatento, mais...
Entregue de alguma forma.
E era uma mistura de cores e sentimentos na minha cabeça. Tão forte e tão intensa que me levavam a acreditar que estava à mil, quando parado, e irritantemente pregado ao chão, quando a minha vontade era correr e estourar os dois.
Acabar com aquilo.
Takanori Matsumoto pertencia a mim, e no mesmo momento em que cheguei à essa conclusão - mais do que óbvia na minha mente, mesmo que a própria estivesse estranhamente fora do lugar - eu cheguei à solução.
Eu iria tirar Taka das mãos daquele homem. E de qualquer outro.
Na verdade, de qualquer pessoa que não fosse eu mesmo.
Era um direito só meu, afinal.
Ele era meu.
E duas semanas depois, enquanto saíamos do ensaio, eu já tinha tudo pronto.
E como planejado, o pequeno me esperou, para irmos para casa.
No caminho todo, meus olhos estavam retos no caminho. As mãos apertando o volante e os membros todos tensionados, ansiosos, trêmulos quase.
O mais novo parecia não perceber e apenas descansava os olhos, com cabeça apoiada no descanso do banco passageiro.
Durante o jantar, em casa, nenhuma palavra foi trocada, e o olhar do loiro sobre mim já começava a me incomodar.
Ele devia estar contando os minutos para sair.
Os minutos para que eu dormisse. E então ele poderia sair. Ele poderia esfregar meu nome na lama tão profunda na qual ele se enfiava.
Mas Ruki afundaria antes disso.
Depois da sobremesa eu cuidei da louça e deixei que ele fosse ao jardim.
Era lá que ficávamos à noite, conversando sobre nossos planos para o futuro.
Mas meus planos, hoje, já estavam mais do que certos.
E o loiro não maliciou quando o puxei com carinho pelas mãos para dentro da piscina.
Com um sorriso e perguntas encabuladas sobre o porquê ele apenas se calou, quando não obteve resposta e se abraçou ao meu corpo.
Abraçou-me com aqueles braços sujos e aquelas mentiras que deviam pesar nos ombros dele.
E eu tinha nojo daquele abraço.
Num movimento leve, o afundei pelo topo da cabeça. E a princípio o vocalista nadou e achou se tratar de uma brincadeira.
Então tapei os lábios dele com força com a mão que me restava livre, e forcei o corpo leve para dentro.
Em segundos a água borbulhava com os movimentos dele.
E eram os braços sujos de Ruki que buscavam pela vida agora.
O segurei com toda minha força, provavelmente já o sufocando só com o gesto.
E nem por um segundo o remorso me assolou.
Bons minutos depois os movimentos pararam.
Eu ainda o apertei na garganta, forçando alguma reação, mas nada veio dali.
Ruki estava morto.
Pelas minhas mãos.
Pelas mãos que já o puxaram para abraços, já o tocaram com amor e já o ajudaram a se levantar.
Com passos calmos saí da piscina e entrei na casa como se, por um momento, nada mais importasse.
Por que no corpo que boiava de bruços na água azulada da piscina, nenhuma mão encostaria senão a minha.
Não mais.