Psychotic

Jul 04, 2010 12:16

Título: Psychotic
Autor: nyx_gates
Betagem: Ninguém, infelizmente.
Shipper: Kimi Raikkonen/Sebastian Vettel
Classificação: Dark Red Flag -q (Fiquei em dúvida entre Red e Black, mas deu pra sacar, não?)
Gênero: Angst, Deathfic
Sumário: Esse era só mais um dos jogos entre eles.
Disclaimer: Não ganhei nada com essa fic, como sempre, mas estou aceitando pagamentos com o corpo! xD
Nota: Essa fic não é minha obra prima, longe disso. Eu não me diverti escrevendo, mas escrever e meu jeito de superar algumas merdas da minha vida, então é, eu precisava escrever essa fic e não achei tão mal assim compartilhar! xD Parei com o discurso agora, vamos a fic ~gigante~.

Psychotic

Ele observava a água avermelhada escorrer pelo ralo como se aquilo fosse a coisa mais importante de todo o universo. O modo como as gotas quase congeladas de água caíam do chuveiro sobre seu corpo nu, levando consigo os vestígios do fluído escarlate parecia que não incomodava.

Muito pelo contrário, conforme a água escorria - cada vez mais incolor - para dentro do cano, mais ele sentia que estavam arrancando um pedaço seu. Seus pulmões protestavam pelo ar retido neles, a garganta fechada para conter o grito desesperado que parecia vir de suas entranhas, mesmo que ele não entendesse o motivo.

Sua mão fez um movimento involuntário, liberando um efeito em cadeia por seu corpo até que acabou por soltar um gemido sofrido. Antes que esse pudesse desencadear mais alguma reação em si, antes que perdesse o controle sobre o próprio corpo ele desligou o chuveiro, esticando o braço e alcançando uma toalha felpuda que enrolou em sua cintura, saindo do box e parando de frente para o espelho sobre a pia.

Observou com cuidado cada traço de si que era possível ser visto no objeto. Os olhos azuis, o cabelo loiro, a pele clara. Tudo o que ele sempre vira, desde que nasceu, mas que nesse instante pareciam pertencer a um desconhecido, lhe encarando tão dolorosamente que ele não se surpreenderia se um sorriso zombeteiro surgisse nos lábios daquele no reflexo.

Seus cabelos estavam molhados, pingando vez ou outra, fazendo pequenas trilhas de água escorrerem por seus ombros, peito e costas. Os lábios finos estavam ligeiramente arroxeados, provavelmente pelo clima estupidamente gelado dentro de toda a casa, mas ele não estava sentindo frio. Ele não estava sentindo. Nada.

A maça do seu rosto, no lado direito, tinha um pequeno hematoma. Levou a mão até ele, apertando levemente o local, a princípio, depois empregando mais força no ato. Nada. Ele simplesmente não conseguia sentir.

Olhando novamente no espelho ele pôde ver de relance a tatuagem em seu braço,mas aquilo não lhe chamou a atenção. Naquela hora ele percebeu que não conseguia olhar nos próprios olhos, não mais. Cada vez que ameaçava um contato com as orbes estupidamente claras refletidas no vidro frio seu corpo tinha uma reação diferente. Hora suas mãos tremiam, hora seu coração disparava, hora seu pé se movia para trás, como se quisesse fazer com que ele fugisse de lá. De qualquer jeito ele não queria realmente ver o que esperava por ele naquela análise minuciosa.

Dentro de si ele tinha medo do que veria ali, medo de que seus olhos escondessem algo que ele não pudesse suportar, medo de que eles o fizessem encarar o inevitável.

Em algum momento ele acabou voltando para o quarto, vestindo a roupa que havia separado para si naquela manhã. Não teve pressa, não demorou mais que o necessário em nenhum movimento. Ele estava com o piloto automático ligado e nem ao menos tinha se dado conta disso. Por alguns segundos ele teve a certeza de que ao menos estava dentro de seu próprio corpo.

No criado-mudo, seu relógio o aguardava, estrategicamente colocado ao lado do telefone. No final das contas, ele gostava de que cada movimento, cada acontecimento fosse meticulosamente planejado, calculado para que nada desse errado. Se isso acontecesse seria simplesmente um fruto do destino interferindo para que as coisas não se tornassem tão previsíveis.

Ao mesmo tempo em que o clique do metal fechando soou, ele tirou o fone do gancho e apertou o número um da discagem rápida, deixando o aparelho apoiado sobre um travesseiro, se dirigindo para as escadas que o levariam ao andar de baixo.

“Você não o amava de verdade.”

Seus passos congelaram, seu coração entalou na garganta. Fechando os olhos ele respirou fundo três vezes, voltando ao seu caminho.

“Você não conseguiu odiar o suficiente para amar.” *
*Qualquer semelhança com a musica Snuff, do Slipknot, não é mera coincidência!

Sua mão sobre o corrimão tremia, seus dentes marcavam o lábio inferior, ao que ele balançou a cabeça para os lados, não confiando em sua própria voz para tentar rebater, mesmo não tendo o que falar, a sensação de que alguém derramava óleo fervente por dentro de si lhe tirando as palavras.

“Você realmente achou, nem que por um mísero segundo, que ele sentia o mesmo?”

Um vaso foi jogado contra a parede. O barulho dos cacos se chocando no chão ecoou pela casa vazia, antes que seu grito dolorido soasse mais alto do que poderia se imaginar.

- Pára! _ Ele pôde se ouvir gritando, girando em torno de si mesmo, olhando todos os cantos vazios daquele ambiente enquanto puxava os cabelos com força, sentindo o rosto esquentar.

“Olhe para você. Despedaçado, destruído. Tudo o que tantos tentaram fazer, durante tantos anos e que um garoto, um simples moleque, fez sem nem ao menos perceber. Eu esperava mais de você, colega.”

Mais um grito frustrado, misturado com uma espécie de rosnado, abandonou seu peito, ao que seus pés o levavam para a sala da lareira no fundo do corredor. Ele não queria ir ali. Ele só queria que calasse a boca.

“Você se arrepende?”

A pergunta ecoou pelo cômodo ao que abriu a porta, retumbando pelas paredes como se tivesse a intenção de acuá-lo, desafiá-lo. No momento em que pôde ver a mancha de sangue que se formou sobre o piso de madeira polida, brilhando com as chamas, ganhando vida conforme estas se mexiam, foi nessa hora em que ele não pôde mais se manter em pé.

“Voltaria atrás, se pudesse?”

- Sim. Sim, sim, sim... _ Os murmúrios deixavam sua boca ao mesmo tempo em que engatinhava em direção ao corpo no chão, não ligando para o sangue que voltava a molhar suas mãos e calça.

“Mesmo sabendo que não o teria mais para si? Que teria que o ver com outros?”

Engolindo em seco, ele fez que sim com a cabeça, sentindo algumas lágrimas cortarem seu rosto e pingarem no chão. Logo ele estava sentado no meio da poça de sangue, o corpo do outro seguro em seus braços, suas mãos o mantendo próximo de seu peito, uma delas acariciando seu cabelo macio enquanto balançava seus corpos para frente e para trás, como uma mãe faria com o filho que acordou assustado com um pesadelo.

“Ele deve estar te achando patético. Na verdade, ele acharia, se pudesse. Mas você o matou, não? Ele não pode achar mais nada. Tsc tsc tsc.”

Kimi fechou os olhos com mais força, balançando a cabeça para os lados murmurando palavras que ele não sabia o que realmente significavam, elas simplesmente saíam, até que pode finalmente verbalizar algo coerente.

- Eu não fiz nada. Foi você. Você o tirou de mim. _ Ele disse, a voz rouca, seus ouvidos captando o som baixo das sirenes se aproximando da casa.

“Pobre Sebastian. Esse tempo todo ele achou que tinha encontrado o seu melhor amigo, aquele em quem poderia confiar, aquele que, acima de todos, o entenderia. O engano deve ter sido um gosto amargo para ele...”

- Ele pode confiar em mim, sempre pôde! Eu nunca, nunca faria algo que pudesse machucá-lo! _ Kimi se ouviu gritando, usando o resto de suas forças para controlar o uivo de dor que tentava escapar de seu peito ao sentir o corpo inerte em seus braços.

“De todos que poderiam reclamar de amor não correspondido, quem imaginaria que o tão falado Iceman seria capaz de matar, por isso?”

A voz continuou provocando, enquanto a porta da frente era arrombada e passos corriam até lá. Kimi não se mexeu, não respirou. Provavelmente ele já estava morto, só não tinha se dado conta disso também.

“Vamos lá, Kimi, não se faça de desentendido. Você não reconhece mais a sua própria voz?”

Os olhos se arregalaram, a boca pendendo aberta ao que ele pôde ver seu reflexo torto no sangue. Ele via sua boca se mexendo, o sorriso de escárnio. Mas aquele não era ele.

Mãos o forçaram a soltar o corpo sem vida do jovem alemão, ao que ele gritava maldições e xingamentos, tanto em inglês quanto em finlandês, dos mais variados tipos. Estavam lhe tirando a única coisa que fazia sua vida valer apena nos últimos anos, estavam o afastando do dono de seu coração.

“O dono do coração de gelo está tão frio quanto ele agora, não?”

- Eu não pedi para ele me amar de volta, eu não pedi nada em troca. Eu só queria que ele soubesse, eu só queria... _ Ele não ouviu nada que os policiais falaram, mal se deu conta do momento em que foi empurrado com força para o banco de trás de uma viatura, que saiu com a sirene ligada.

“Você não pediu, mas não permitiu que ele fizesse diferente. Admita, Kimi.”

Ele negou com a cabeça, enfiou os dedos sujos de sangue pelas mechas claras de seu cabelo, enquanto voltava a se balançar, para frente e para trás. Ele só queria que aquela voz parasse, ele queria alguns minutos de silêncio para conseguir entender o que estava acontecendo.

Como se fosse um filme, ele pôde ver por sob suas pálpebras o momento em que finalmente pode dizer o que sentia pelo mais novo, o momento em que esse se afastou e disse que não era recíproco, que ele não queria se prender a alguém. Ou será que ele não disse isso?

Não importava. Quando deu por si ele já estava sobre o corpo do menor, este com os olhos azuis, aqueles que tinham um brilho que o encantaram desde o primeiro segundo... Aqueles olhos lhe olhavam com medo, dor, decepção, tristeza. As mãos dele se agarravam com força em seus ombros, mas aos poucos elas foram afrouxando, ao mesmo tempo em que os seus olhos perdiam o foco.

Kimi não sabia o que estava acontecendo, ele não entendia. O sangue que o sujava, que se alastrava pelo chão, aquilo simplesmente não fazia sentido. Com um sorriso demente no rosto ele se levantou, acariciando a testa do mais novo com a ponta dos dedos, fazendo uma careta para o rastro rubro que deixou no lugar.

- Baby, eu vou tomar um banho, sim? Você fez uma grande sujeira aqui. Eu já volto pra você, ok? _ Ele disse, saindo de lá sem esperar a resposta, como se pudesse ver o mais novo rindo com um bico nos lábios enquanto arrumava alguma coisa que tivesse bagunçado.

“Você acabou com aquilo que mais prezava no mundo. Você matou quem mais amou em toda a sua vida. O que é a loucura de conversar consigo mesmo, perto da loucura de ver o que realmente fez, não?”

A voz de Kimi soou provocativa, seu olhar superior voltado para o nada, um segundo antes de sua expressão se tornar chorosa, o corpo voltando a se balançar como se nunca tivesse parado com os movimentos.

- Eu não matei o Sebi, você está louco, pai? Ele está lá em casa com os cachorros. Ele deve estar bravo que eu sai sem avisar, eu tenho que... _ Kimi dizia, sua voz se exaltando conforme ele olhava para os lados, passava as mãos pelo rosto e se mexia sem parar no pouco espaço do banco traseiro da viatura.

Ele não viu o olhar preocupado, até um pouco amedrontado, que os policiais lançavam para ele pelo retrovisor. Ele não ouviu o momento em que um deles fez uma chamada pelo rádio para que a equipe do hospital os aguardasse na porta da delegacia. Ele não sabia que não sabia mais o que era realidade, o que era invenção de sua cabeça, tentando abafar com loucura o som do choro de dor e desespero de Sebastian, da sua decepção com o mais novo, do seu ato impensado e sem volta.

Mais do que dominar seu coração, Vettel havia dominado sua mente, deixando para si apenas o modo doentio que o fizera matar.
Matar por amor, matar por amar, matar por não ser correspondido da forma como desejava. Ou pelo menos que ele acreditava não ser.

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