Perfezione

Feb 17, 2012 10:48


Título: Perfezione
Autora: nyx_gates
Ship: Ignazio Abate/Nicolas Lodeiro Mas com algum esforço dá para colocar outros, os nomes quase não aparecem.
Betagem: lilith_v
Fandom: Futebol
Gênero: Slash, Deathfic, Drama, Romance, One-shot.
Censura:R.
Terminada: Sim.
Capítulos: Único. Dividido em sete partes.
Teaser: "...mas o faziam juntos em meio às bolinhas coloridas, em um canto só deles por alguns momentos, longe de todos que poderiam julgá-los."
Disclaimer: Nico é meu, Abate é da Ana, eles pertencem um ao outro e ai de quem vier falar o contrário! 
Notas:
1. Acho que mais que nunca dá para perceber que nunca aconteceu além das nossas cabeças e RPG por aí, mas eles são lindos e eu vou amar para sempre.


Perfezione

Era engraçado, de certa forma, o modo como se via, o modo como achava que os outros o viam e o modo como ele o via. Ou parecia ver, pelo menos.

Sempre se achou o garoto pequeno que veio do Uruguai há alguns anos, que, apesar do sorriso fácil e de ser ingênuo - admitia isso sem problema nenhum, sabia que não era bom confiar cegamente nas pessoas, mas não conseguia evitar -, um sorriso e um carinho eram o suficiente para conquistar seu coração.

Ainda assim, tinha problemas em controlar seu sangue quente, metendo-se em brigas que não deveria, principalmente por seu tamanho perto dos outros, mas não se importava, nunca fora indefeso e sabia mostrar isso para qualquer um que se aproximasse da forma errada.

Podia ser pequeno, mas nunca deixava passar alguma injustiça ou algo que não gostasse, era algo que vinha de dentro, que se somava ao modo que foi criado e não se arrependia de ser assim.

Ao mesmo tempo, sabia que a maioria das pessoas o via apenas como uma criança, por mais que não fosse totalmente assim, era desse modo que o tratavam e, na maioria dos casos não se importava, mas, num geral do quadro, odiava ser tratado assim.

Mas com ele não foi assim. Quando se conheceram, o seu tamanho não importou para o loiro quando ele veio para cima de si, achando que poderia intimidá-lo. Da mesma forma, acabou indo para cima dele e, apesar de tudo, não conseguiria se esquecer nunca como foi deixar um cara daquele tamanho com medo de si.

Sendo honesto consigo mesmo, claro que as atitudes dele o tiraram do sério naquele dia, mas quem conseguiria enganar se dissesse que não notou como o mais velho era bonito e perfeito?

Agora, depois de todo esse tempo, não poderia negar que a ousadia do outro ao dar aquele tapa em sua bunda, de certa forma, deu-lhe uma pontada de curiosidade, depois que a raiva passou. O modo que seu olhar mostrava um receio, como se tivesse medo de si quando explodiu com ele daquela forma, mas, mesmo assim, continuava todo imponente em sua pose...

Aquilo fazia algo queimar dentro de seu peito, vontade de desafiar, empurrar e testar até onde aquilo poderia ir, e essa sensação era nova, porém tão viciante que não conseguia esperar pela próxima vez em que se cruzariam, se é que isso aconteceria um dia.

**

Quando já não tinha muitas esperanças de que fossem se encontrar novamente, foi que encontrou o cara que lhe tiraria o fôlego e roubaria seu coração um dia. Mas ainda não, ainda era cedo demais. Apesar disso, como poderia ignorar a pele branca, que parecia tão macia quando ele parou ao seu lado para esperar o elevador?

Não tinha como, do mesmo jeito que não havia maneira de ignorar o olhar sobre seu peito sem camisa, aquele olhar que nunca tinham lhe lançado antes, não de forma tão descarada e segura de que conseguiria o que tanto cobiçava como ele fazia. Sentiu o peito inflar, esquentar, assim como o resto de seu corpo, impedindo de reagir como deveria às frases de alguém tão irritante quanto o mais velho.

Ao contrário do que devia, apenas provocou de volta, de modo que, assim que as portas do elevador se fecharam, viu-se preso contra uma de suas paredes, o corpo dele prensado contra o seu da forma mais deliciosa possível, suas mãos correndo livremente por aquela pele macia, branquinha e perfeita como nenhuma outra que já tivesse visto.

E nunca se sentiu tão satisfeito por agir antes de pensar porque de outra forma nunca teria os lábios se movendo contra os dele naquele beijo indescritível, o corpo arrepiando com seus toques e a forma que o segurava pelas coxas contra a parede de metal frio.

Se alguém perguntasse se tinha orgulho de ter transado com uma pessoa que não gostava nem um pouco, ainda mais em um elevador, onde a qualquer momento alguém poderia aparecer e pegá-los no flagra, provavelmente diria que não, mas, no fundo, naquele lugar que só o italiano conseguia entrar, sabia muito bem que tinha adorado cada mísero segundo daquele dia, pois fora tocado de uma forma diferente, só aumentando aquele gostinho de desafio e quero mais que sentia dentro de si, borbulhando no canto mais escuro e escondido de seu coração.

Era o toque dele, o jeito que o via, o jeito que se encaixavam perfeitamente juntos e que essa palavra parecia sempre rodear qualquer coisa que envolvesse o ser mais autoconsciente e convencido que tanto gostava. Perfeição.

**

A grande questão é que o perfeito não dura mais que segundos, se tiver sorte; minutos, e, da mesma forma, o loiro escandaloso ainda era um ponto fora da curva em seu caminho e a sua vida continuava enquanto estava longe dele.

E foi longe dele que passou pelas coisas que mais doíam em seu peito, situações que não podia controlar e que se gravavam fortes e marcantes em sua memória, mais que qualquer lembrança boa que conseguisse ter, pois elas nunca seriam suficientes para acabar com seus pesadelos quando estava sozinho à noite em seu quarto.

Sentiu raiva, dor e mágoa, ainda sentia quando passou novamente por aquela curva, desviando sua rota para o loiro sentado no chão, brincando com bolinhas de plástico da piscina infantil enquanto ouvia música. Enquanto ia até ele, deixava a maior parte de suas dores e medos para trás, era apenas o garoto uruguaio indo provocar o italiano que fazia seu coração ficar mais leve e tranquilo, que cada vez mais conseguia conquistá-lo com cada sorriso, cada toque.

Se parasse para pensar, nunca foi realmente um garoto com ele, porque aquela aura de desafio puxava o melhor de si, assim como também puxava o pior, mas as melhores coisas são assim, andam juntas, par de opostos que se completam e parecem não fazer sentido, mas é totalmente o contrário. E era assim que eles eram.

Então conversaram, sorriram, beijaram e sentiram um ao outro, trocando segredos e experiências que não poderiam dividir com qualquer um, mas o faziam juntos em meio às bolinhas coloridas, em um canto só deles por alguns momentos, longe de todos que poderiam julgá-los.

E naquele dia, seu coração bateu mais forte enquanto ele o tocava e beijava de forma diferente, até mesmo para ele. Era um beijo novo, um toque novo, realmente sentindo o que estava fazendo e prestando atenção nisso, o que levaria a tantos outros toques, beijos e situações que não seriam capazes de imaginar ou acreditar naquele primeiro dia.

Naquele momento, deixou-se confiar naquele que mais ninguém se atreveu a confiar, deixou que ele soubesse que tinha uma pequena porta para si em seu coração., porque tinham as mesmas marcas, causadas em situações e épocas diferentes, sim, mas, ainda assim, iguais.

Descobriu então que eram iguais, mais do que poderiam imaginar ou desejar. E se completavam, mesmo que não tivessem noção disso ainda. E foi sua vez de, por um momento, sentir-se bem consigo e com o que era. Perfeito.

**

Não lembrava bem quando foi que conversaram sobre ler, assim como tantas outras coisas que não se lembrava, talvez porque se perdia observando os traços de seu rosto, o modo que movia os lábios ao falar e o jeito quase despreocupado que o tocava, como se não estivesse percebendo que a cada vez que se viam o tratava com mais carinho.

Eram beijos suaves do nada, abraços, carinhos na cintura e no cabelo... Cada pequeno gesto desses só o fazia se derreter cada vez mais, sorrir mais e se sentir tão bem na companhia dele que queria cada vez menos se separar dele, sentia-se cada vez mais vazio e sozinho quando o fazia.

Não iria admitir, mas foi por isso que passou a manhã perturbando o recepcionista do hotel até que ele lhe desse um livro que julgasse bom, que pudesse agradar o gosto do mais velho, por mais que não conhecesse muito esse gosto. Guardou o livro com carinho na mochila antes de ir para a academia, pensando se teria alguma chance de encontrar seu loiro em algum momento aquele dia.

E o encontrou sentado sob o guarda-sol na piscina, comendo alguma coisa qualquer enquanto lia um livrinho qualquer. E assim foi quase pulando até ele, sem conseguir conter o sorriso gigante que tomava seu rosto em sua presença.

E foram toques, risadas e momentos engraçados que aconteceram ali pertinho da água, tão diferente dos xingamentos e empurrões de quando se conheceram. Mas quem poderia dizer que não foi feito para ser assim?

Sabia, no fundo, que se fosse assim desde o começo, não teria dado certo, que foi o desafio, as descobertas e os passos lentos que os levaram até lá, sem que notassem o caminho que seguiam e que suas curvas se encontravam em algum ponto mais adiante que não se arriscavam a procurar naquele lugar.

“E un'altra settimana se ne va, senza sapere che sarà di noi. Dimme perché siamo qui a lottare, io contro te fino stare a male. (...) Siamo così, siamo tutti matt... Anche io e te come cani e gatti.” ¹

E foi assim, com a confissão inesperada, o acordo selado e o peito aquecido que foi embora para seu quarto, sentindo o peito inflado com uma felicidade que nunca tinha experimentado.

Sabia que as coisas estavam tomando um novo rumo, um rumo que não se importava em descobrir aos poucos, com ele, tentando. E assim, nunca mais lutariam daquela forma, arriscando fazer mal um ao outro, tropeçando pelo caminho e arriscando tudo.

Realmente eram como cão e gato, mas como resistir a uma trégua que ambos queriam? Quem poderia julgar um amor entre inimigos naturais que se completam, se anulam e se misturam, como água e fogo, procurando um culpado quando todos são?

Dessa vez, foi embora com a promessa do reencontro, fazendo seu estômago dar pequenas voltas, um sorrisinho bobo se instalar em seu rosto e uma sensação de que tudo ficaria bem no final. Que eles ficariam bem no final.

E talvez, talvez esse sentimento que crescia dentro de si fosse capaz de apaziguar os sonhos ruins que o atormentavam à noite. Talvez eles fossem assim para mostrarem que aquelas nove letrinhas juntas, que diziam que não existia fosse realmente real.

Afinal era cão, protegendo, rosnando e mordendo, mas amando incondicionalmente. E ele era gato, arisco, imprevisível e porque não esnobe, mas que ama aquele que é capaz de penetrar suas barreiras. Quem diria que isso não era a perfeição que julgaram não existir?

**

A parte ruim foi que seu “encontro” não aconteceu e que descobriu da pior forma que o que é perfeito também é frágil, pode ser quebrado, rachado, cortado, e que isso deixa marcas que não podem ser esquecidas.

Ignazio não apareceu em seu quarto mais tarde naquele dia como haviam combinado. Não sabia dizer o que fez isso, mas não conseguiu ficar sentado em sua cama e aceitar que talvez, talvez ele não apareceu porque não queria. Algo dentro de si dizia que deveria ir atrás dele, e foi o que fez. Esbravejou, reclamou, gritou até que alguém o ouvisse e finalmente dissesse onde era o quarto do mais velho e assim foi até lá, parte de sua determinação sendo tomada pelo receio.

E se ele estivesse com outra pessoa?

Mas não estava. Porém preferia que estivesse a vê-lo machucado, e não eram os machucados por fora que lhe preocupavam, sabia que, se ele cuidasse deles direito, ficaria bom logo. O que preocupava era como ficou por dentro.

Não sorria, não era mais escandaloso e convencido. Agora desviava o olhar, escondia-se como podia, irritando-se com cada movimento que tentava fazer, mas que era impedido pela dor.

Então fez o que sabia fazer melhor. Cuidou, acariciou e tentou distraí-lo da melhor forma que podia, fazendo palhaçadas para tentar levantar seu ego para trazer de volta seu italiano que tanto gostava.

De certa forma, gostava do jeito frágil dele, de saber que confiava em si para que visse seu lado fraco, quebrado. Aceitou o que ele ofereceu sem reclamar, sem se dar conta do momento que se ofereceu de volta, não sabendo quando as conversas tranquilas mudavam para conversas sérias e importantes, que faziam seu coração apertar de nervoso, as palmas das mãos suarem e a boca secar.

Mas mesmo que não soubesse, elas aconteciam, uma após a outra. A trégua, o pedido. Aquele pedido sem jeito que nunca tinha feito para ninguém, que em algum lugar de si sabia que nunca mais faria para ninguém.

Aquela pergunta que deixou a dúvida de se conseguiriam ou não. Mas isso não importava, pois o passo principal já havia sido dado. Eles iam tentar, e isso valia mais que promessas vazias que levariam a corações partidos e relações cortadas.

Tentariam ficar juntos, apenas eles, sem mais ninguém quando não estivessem juntos. Sabia agora que não seria perfeito, que não seria fácil, mas seriam eles, juntos.

E para si era aí que morava a perfeição da coisa, aquela perfeição que não poderia ser quebrada por mais ninguém a não ser eles mesmos, o garoto que não sabia mentir e o homem que não mentia para ninguém, simplesmente porque era assim e não julgava necessário.

Naquela noite, dormiram juntos pela primeira vez. Sem sexo, apenas dormir sentindo o calor um do outro, em seu mundinho longe de tudo e todos, longe dos problemas.

E, pela primeira vez, não teve pesadelos ou sensações ruins de que estava sendo vigiado o atormentando durante o sono. Pela primeira vez, dormiu em paz, confortável e quentinho, sentindo-se bem e protegido ao lado da última pessoa que esperava que fosse lhe causar tamanho bem estar.

**

A próxima vez em que se encontraram, se não fosse o fato de não ter sido avisado disso antes, em sua cabeça parecia totalmente com um encontro. Só a surpresa de vê-lo batendo em sua porta com aquele prato cheio das uvas mais gostosas que já tinha provado era capaz de enviá-lo para um estado de total êxtase, porque, ah, se alguém lhe perguntasse isso, poderia jurar de pés juntos que um deus grego havia batido à sua porta. Grego não, italiano.

Então aconteceu como já era previsto, brincadeiras, beijos, mãos curiosas explorando o corpo alheio como se descobrindo um novo tesouro. Pele macia e branca com pele suave e ligeiramente bronzeada, quase caramelo, que parecia tão apetitosa aos olhos e toques quanto aos lábios.

Pele com pele, sussurro com sussurro, gemidos misturados com um turbilhão de emoções e sensações que nunca haviam sentido antes com mais ninguém, talvez nem mesmo juntos, pois não se permitiam. Compartilhavam isso juntos em meio aos lençóis brancos, esquecendo-se do frio do lado de fora ou qualquer outra coisa que não fossem eles.

Naquele dia, descobriu que não era de todo mal implorar, e que qualquer esforço para agradá-lo um pouquinho só não seria de todo ruim. Então implorou por mais, por ele, por tudo e por nada. Per favore. Não soava tão bem em seus lábios e língua destreinados naquele momento, mas que só pela tentativa e pelo modo que foram ditos poderiam deixar qualquer um louco, até mesmo ele.

Com cada milímetro de seus corpos juntos, mãos entrelaçadas enquanto podia jurar que saiu de seu corpo e voltou mais leve do que jamais esteve, prazer misturado com tudo de bom que poderiam sentir juntos, lá estava ele, em toda sua falta de tamanho se dando conta de que queria mais que nunca que aquilo durasse para sempre, o que quer que fosse que estivesse sentindo por ele e que não se permitia admitir ainda, que julgava ser apenas um gostar diferente.

Diferente porque sabia de seus defeitos, de suas qualidades e de qualquer coisa que precisasse saber e, ainda assim, gostava dele como era, sem querer mudar nem uma gotinha daquilo, sabia que qualquer mudança o tornaria comum como qualquer outro e não mais seu Ignazio.

Também sabia que, do mesmo jeito que gostava dele exatamente como era, sem por nem tirar nada, também sabia que era recíproco de alguma forma, o que fazia suas mãos formigarem, as pontas dos dedos ficarem geladas e um sorriso enorme se recusar a sair de seu rosto.

Porém nada entre eles era exatamente fácil, e tais realizações vieram acompanhadas de lágrimas, medo e arrependimento. O que só tornava o sentimento final maior e melhor, permitindo-o dormir nos braços dele novamente sem pensar em mais nada além de que não queria sair do meio dos braços dele, sentindo seu peito quente subir e descer enquanto respirava, as pernas entrelaçadas e suas mãos em suas costas o segurando ali. Se existia um paraíso, tinha encontrado o seu no meio do inferno.

Mas a distância chegou sem avisar e seu paraíso se desfez aos poucos, conforme o inferno tomava conta com mais força que nunca, só deixando a certeza de que era fraco, pequeno e imperfeito. Tentou lutar contra isso, segurar os pensamentos que ameaçavam consumi-lo, cercar-se daqueles que eram queridos para poder se distrair, mas cada um deles enfrentava seu próprio inferno e já não se via capaz de fazer nada além de tentar ajudá-los e correr até ele.

Esperou em seu quarto, olhando a paisagem pela janela e se deixando acalmar o mínimo que fosse com o aroma quase imperceptível que o quarto conservava, aquele cheiro que amava mais que tudo, o cheiro que sempre sentia quando apoiava a cabeça em seu ombro e respirava fundo.

E por mais que fosse ciumento, tanto quanto ele, na verdade, sabia admitir as coisas que o machucavam e amedrontavam, por mais que não soubesse como agir depois. Do mesmo jeito, o mais velho não tinha problemas em dizer a verdade, fosse ela boa ou ruim, mas, quando se tratava deles, nunca ouviu uma palavra ruim sair de sua boca. Incertezas, sim, mas nunca negação.

Assim, sem que percebesse, estava tudo bem de novo. Estava inteiro e com ele, sem medo de arriscar, sem medo de machucar ou dizer o que devia dizer, sem medo de ouvir, pois sabia que só diria o que precisava.

Nunca foi de se importar em se exibir, querer mostrar para alguém que era melhor, até porque nunca se sentiu assim. Porém aquela noite era diferente, e quis que todos vissem que aquele loiro, que fazia todo mundo parar o que estava fazendo e simplesmente olhar se ele quisesse isso... Queria que todos soubessem que ele, o Nicolas criança, o Nico fofinho, que era ele o único que poderia tocá-lo como quisesse, andar ao seu lado e sentir seu braço em torno de si como se quisesse garantir que ninguém se aproximaria do seu menino.

Naquela noite, que não prometia nada além de festa, música e bebidas, descobriu que era o único que poderia dizer “Eu te amo” e ouvir o mesmo de seus lábios rosados, ver em seus olhos estupidamente claros que, como sempre, estava totalmente certo do que dizia.

Seu paraíso em forma de homem. Seu italiano com o ego maior que o mundo. Seu tudo que havia formado consigo a sua definição absoluta de perfeição.

**

Era como havia percebido uma vez. Perfeição não dura, é frágil, delicada, por mais que se faça de forte e indestrutível. Então antes do que queria ou poderia imaginar ou suportar, seu pequeno mundo onde era feliz com o outro teria que acabar, soube disso no momento em que se viu naquela sala com ele.

Quando soube a escolha que ele teria que fazer também soube com toda a certeza o que ele escolheria. Era como tinha dito uma vez, ele se amava tanto que nunca seria capaz de se deixar, então, por mais que tentasse se agarrar na idéia de que ficariam juntos, que dariam um jeito de saírem de lá, sabia que não era isso que aconteceria.

E diferente do que pensou não conseguiu odiá-lo, não de verdade, nem por um segundo que fosse. Sabia que morreria por ele, e era isso que estava fazendo, morrendo para que ele vivesse, morrendo em suas mãos.

Pediu que ele não fizesse nenhum discurso de despedida ou nada assim, já sabia o que tinha que saber e levaria isso consigo em seu coração para onde quer que fosse: céu, inferno, purgatório ou simplesmente o vazio de não existir mais.

Sabia que ele o amava pelo jeito que o segurou o tempo todo, sem soltar em nenhum momento, sem deixar de protegê-lo até o ultimo segundo, quando se tornaria aquele que lhe tiraria a vida.

Esperava, do fundo do coração que ele soubesse um terço do quanto o amava apesar de tudo, do pouco tempo que tiveram juntos, mas que não tornava seus sentimentos menos verdadeiros ou intensos. Esperava que ele não esquecesse as lágrimas que causou e que era o único que poderia secá-las e lhe arrancar um sorriso verdadeiro, mesmo que não pudesse mais vê-lo sorrir.

Foi segurando em sua blusa, sentindo seu coração bater em seu peito que passou o último segundo de sua vida, morrendo em seus braços, como toda tragédia romântica que realmente vale a pena ser acompanhada, com um último eu te amo lhe escapando dos lábios entre os soluços, levando consigo apenas o desejo de poder ter sentido seu gosto uma última vez e não ter tido tempo de pedir seu ultimo beijo.

E assim morreu, dando-se conta no ultimo milésimo de vida que a perfeição dura, sim, mas que o “felizes para sempre” não existe, nem a eternidade, nem nada do que deveria durar.

E é isso, essa incerteza do quanto cada coisa irá durar que torna tudo perfeito no final, a certeza de que aproveitou ao máximo enquanto podia, que assim como uma roseira plantada, pode ver seu crescimento, do desabrochar do broto de flor até que a última pétala seca caísse, sem nunca se esquecer ou gostar menos dos espinhos.

Perfeito.

FIM.

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